A ver vamos

Uma obra cinematográfica em rodagem na Ria, nesta vasta ria em transmutação permanente, ela própria personagem omnipresente nos cenários, nas pessoas, na ação. Um filme baseado na obra literária de um escritor que bem conhecemos, dramática e de um tempo já distante, mas também de hoje e agora, "me too" dos anos 50, outras redes sociais, ou não estivéssemos em território de pescadores e de peixes, nós, os peixes que nos deslocamos no tempo fluido e profundo cruzando continentes entre as canízias e os esteiros, navegações incertas em espaços infinitos, pela noite dentro. 

Raul Brandão é chamado à liça, convocado para co-refletir nos espelhos de água as imagens construídas com partidas e chegadas, neste e naquele cais, os cais dos nossos encontros com a vida, portos imprevistos que nos surprendem cada dia, cada vez mais. Entre o Cais da Ribeira de Ovar, As salinas de Aveiro, o Esteiro de Veiros e a sua magnífica capela Barroca, o Puxadouro de Válega e ,sem esquecer, a Ponte de Enxemil. Mil e uma noites de ação. Fiquemos tranquilos, não é a pesca, não é a apanha do moliço nem os moliceiros, nem é a arte xávega e as transformações sociais decorrentes da industrialização tardia em pleno sec. XX... "Só se muda de vida uma vez", como diria João " das enguias", personagem desaparecida do universo da Ribeira já há muito tempo.

Não sei se é da estética neo-neorealista que trata o filme, mas desconfio que andará por ali um certo dramatismo social, explicitando desigualdades e injustiças, dor e drama, entre o teatro da vida e uma paisagem dura e inacessível, desafiante, a paisagem mítica das capelas e igrejas de beira Ria, os milagres e mistérios das imagens de santos e mártires que surgem nas ribeiras, entre-águas, nos golfos, nas redes dos pescadores, querendo fazer crer que , com fé, tudo é possível. 

 Não sei verdadeiramente do que trata o filme, provavelmente não é nada disto e muito mais, a ver vamos como diz o cego, que agora é invisual, mas continua ávido de luz e ação. 

Um "Bando à Parte".


A bateira "Nelinha" a caminho do local da rodagem.


Tudo pronto? A maré sobe? A corrente ajuda? (Silêncio!)


Manejar uma bateira à vara? E a remos. Tudo tranquilo, o ator é de Tavira.

Sentados no chão, sem mexer uma palha, como quem diz sobre a gravilha e entre canízias.

A luz? Essa Lua ausente...

Haverá sempre Ria , noites de Luar e o nosso Mar a marulhar.


No Cais da Ribeira. Um barco-Taxi que acosta. Trabalhadores desembarcam e dirigem-se ao teatro. O cinema, essa caixa de surpresas.


Depois foi o regresso da Ribeira ao Carregal. Duas da manhã. Os insondáveis meandros do canal, a maior dificuldade. E a Chuva. E o escuro. Só com uma luz potente seria possível o regresso, e foi. 
Uma lancha construída em Ovar por Horácio Lopes da Melra. Mantida por J.Nunes Branco. Coisas que já não existem, apenas aparecem nos filmes.  














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