Um passeio de barco com os amigos I

11 de Maio de 2019

O Mediterrâneo, Sul de França. Côte d`Azur. Blue waters com neves perpétuas subindo os Alpes, coroados de picos envoltos em mantos de nuvens brancas. Fortes e Mosteiros, e casas de reais, mas muito mais, plástico flutuante em forma de fortalezas navegantes, iates de uma escala de polifemos das arábias, ou das estepes, talvez da City, dosagem de wall street, mas sem dúvida terra de deuses. O paraíso nas costas mediterrâneas, assim ao jeito de copacabana das índias, Homero e as suas histórias, Odisseias e míticas paragens.
As neves perpétuas dos Alpes acompanham-nos na viagem entre Cannes e Antibes, onde Picasso se acoitava por entre as pernas de umas sensacionais sereias africanas, ali passeando na beira mar, ou mesmo laborando as caixas do supermercado. Gente linda, Ólinda...
Logo à saída do porto de Cannes, Vincent sugeriu que tomasse o leme; vertigem de principiante num 45 pés que se manobra de pé ou sentado, observando visores e a frota em redor. Chegados a Antibes , Vincent ao leme, a manobra de acostagem muito bem sucedida, eu ainda "aos papéis".  Mas na cozinha, ao jantar, confeccionamos taglateli de salmão. Terminou com um excelente rum "agrícola" da melhor espécie. A conversa, a companhia, o barco, o contexto, ambrósia de navegantes.





12 Maio 2019

Pernoitamos em Antibes.
Zarpámos ás 13:00, depois de um passeio e umas compras, saindo por entre os grandes iates dos sheikes ou príncipes das arábias, americanos talvez, lanchas-iates flutuam ancorados em banda, bairros de ricos, paralelismo das construções "SAAL" dos meus tempos de estudante, outras bandas.
Subimos a vela grande e em pôpa deslizámos em frente ao Mónaco, observando ao longe o museu de Jaques Cousteau, lembrámos o rei D. Carlos e as suas afinidades à oceanografia e as viagens ao principado, as regatas reais de finais do sec XIX. Jean Pierre e Carlos descansavam, eu e Vincent observávamos as progressões do "Macien" conversando sobre estes e outros temas. Curioso é que ali, depois dos picos nevados dos Alpes, vivem a  Ester e  Pedro, nas margens do lago Lemans...
Chegámos a Menton.
Uma delícia de sítio com cúpulas bizantinas, as construções subindo a encosta, onde o turismo ao longo do sec. XIX veio alterar radicalmente a povoação de camponeses e de pescadores... operando uma grande transformação socio-económica e  política.







13 de Maio

O vento não era favorável para alcançar Impéria. Ficámos no Porto de Menton mais uma noite. Em Menton existe o museu de Jean Cocteau, não me perguntem porquê. Vincent e Jean Pierre foram até ao Mónaco, de combóio. Ficámos, Carlos e eu, praticando a arte brasileira de não fazer nada. o "nadismo". Grandes inventores modernos estes brasileiros, pena terem perdido algum fulgor nos últimos tempos. Dormi a sesta, creio que a última vez que dormi a sesta... do dia ficaram duas coisas cujo realce passo a citar:
O mergulho pela manhã na praia, que antecedeu a saída de uma ninfa seminua das águas, previlégio de turistas de maio, água ainda fria ... mas as braçadas não se fizeram esperar. Na marginal, passeiam bonitas mulheres, loiras, vestidas de branco, óculos rayban clássicos, sentou-se no banco ao lado, olhou, sorriu, eu, gato-pingado limpo-me á toalha.
Pela noite depois da chegada dos monegascos, o jantar depois das compras, fizemos peixe. Era para ser no forno, foi no tacho. Legumes no tacho, muita cebola ás rodelas, alho francês, cenoura, alho, fio de azeite, salsa. Coze um pouco, vinho seco rosé, espera, água até cobrir os legumes que estufam com 4 camarões derscacados, 15 m. Os filetes de pescada temperados com limão pimenta alho e um pouco de leite e sal, passam muito ligeiramente na caçarola com uma pequena bola de manteiga e aguardam e entretanto as batatas ás rodelas finas que eram para serem assadas no forno regadas com azeite, passaram para cima da cama de legumes no tacho com mais um pouco de água até cozerem e mesmo antes de estarem cozidas, levam em cima os filetes e uma boa mão cheia de pequenos camarões descascados, cozem lentamente 5 m e serve-se. Estava criada a "Caldeirada de Pescada à Macien". Obtivemos boas críticas.

dia 14 de Maio

4:30, acordado.6:00, a dormir. 8:20, acordado. Fui tomar banho na praia de Menton, melhor dizendo, na baía interior de Menton, A praia é virada para fora, para o mar aberto. Algumas pessoas nos banhos de sol, um bom dia. Eu e o Carlos fomos ás compras ao mercado de rua, uma boa descoberta, mais genuíno que o de Antibes, muita variedade de enchidos, queijos, flores, especiarias, tudo. O sino da igreja ou o carrilhão eletrónico, entoava sons de outrora. Zarpámos de Menton por volta das 13.30, a motor, ao longo da costa rumo a Impéria, Itália. Entrámos claramente noutra cultura outros territórios, que se apercebem mesmo ao longo da costa, outros sons, dos burburinhos passámos ás frases soltas, soltam-se gargalhadas ou frases ríspidas, uma outra música, maior agitação.
Um problema na válvula de descarga dos líquidos residuais do "Macien" obrigou a uma aventura tecnológica improvisada por um grande engenheiro.  De permeio conhecemos Roberto, um italiano "faz de tudo", pro-activo técnico, e amanhã virá um mergulhador para meter uma "rolha" no orifício, esvariarmos o tanque, substituir a vávula, remover a "rolha"... Em síntese, a geringonça funcionou muito bem á sempre bom haver um engenheiro a bordo. Troquei umas conversas breves com o mergulhador, sobre mergulho. Ambos gostamos de mergulhar de noite, miríades de estrelas underwater.
Impéria, a cidade, sobe a encosta curva da baía, íngreme cidade até ao topo da colina, blocos em socalcos, orografia difícil, escadas e escadarias, um funicular une diversos patamares, subi a pé desci pelo funicular, custo zero.
Aqui fazem escala e resguardo grandes iates. Grandes, gigantes, médios e assim assim. Muitos.
Ah, pois, quem nos recebeu no porto para tratar da papelada? A Júlia. Olhos verdes, mais uma vez o mediterráneo, Creta e o Minotauro e todas as Júlias da antiguidade nos recebem nos olhos verdes de Júlia.
Pela tardinha, já a escurecer, confecionámos frango de caril, especiaria que tínhamos comprado no mercado. Ervilhas "tortas" como entrada, arroz basnati a acompanhar o caril, salada, vinhos, queijos.


Dia 15 de Maio

Grandes caminhadas grandes ventos, Macien aguarda no porto. Subi a encosta até à Catedral, st Maurice. Neo classico tardio, interior de uma escala monumental, estuques brancos polidos, abóbadas cruzadas, zimbório central, colunas coríntias, muita pintura, pouca estatuária, com a exceção do grande átrio de entrada, com os 4 evangelistas e suas simbologias.
De facto estamos num local entre St. Maurice e Impéria. O museu naval tem um horário estranho, no átrio entre outros barcos, reconheci um "star". Muita arqueologia subaquática, muitas ânforas. Não entrei, estava fechado.
Mas pela manhã soube do significado do nome do barco; "Macien". Literatura, infância e histórias de família, o Almirante e seu irmão gémeo, Piere, Vincent e seu irmão gémeo, (inventado) Macien.
Desci por escadas desde a catedral até aos portinhos e praias de St Maurice, por um lado o porto, área das pequenas embarcações de pesca e lazer locais, depois e em muito maior número os iates, grandes a motor e á vela muito acima dos 50 pés...
Entre o porto e Impéria, a marginal inóspita, a frente ribeirinha com cais de acostagem para super iates, mas construções a meio, inacabadas, estruturas em betão sem paredes, esqueletos de tipo duvidoso, percusos sem continuidade muros e redes metálicas, caminhos improvisados. Desvio de fundos e coisa e tal, supõe-se, especula-se, à boa maneira italiana.  Mas, mais além um clube de ténis, entre arvoredos, passei por lá entrando e percorrendo por entre tenistas e outros passantes. Terra batida, pó de tijolo, padel, e tapete sintético, campos cobertos e abertos, muita atividade.
Jantámos depois de um aperitivo na esplanada, esparguete com carne picada, estilo "maciennette". Ouviamos Amália, Entre histórias em francês que corriam ao sabor do rosé, Brigitte Bardot, Jane Birkin e o filme "Viva Maria" . Deixar passar o tempo, uma arte, "Voua avez la montre, nous avons le temps" L`Afrique aux africans, l`argent aux europeans, ou ainda uma outra, acerca dos pelicanos transportarem a comida no bico e regurgitarem o peixe para os mais novos que esclamavam, "oh! não! outra vez tripas..."

Dia 16 de maio

Saímos de st Maurice, ou Impéria logo de manhã, pelas 8:30. Acordei cedo, o nascer do sol é ás 5. Fui deambular pelo cais até aos "banhos", estava uma luz bonita, mas frio e pouco vento. Saímos a motor o vento na proa, fraco de SW, Pela hora do almoço, ( saladas, sempre ricas saladas), subimos a grande e progredimos em piloto automático. Passados uns tempos tomei o leme. A sensação de velejar uma embarcação com a inércia do "Macien", resultante do seu tamanho e envergadura, é algo novo. Mas reage bem, temos de ir conhecndo os seus "momentuns" a variaçõ de linha de água na ondulação, o bailar nas ondas... Velejávamos progradindo a 4, 6 nós, com ventos de 12, 14. Passámos Antibes, Mónaco, Cannes e fundeámos numa bela baía, baía de "Aggy". Sem imobiliária, sem paredões ou cais, muito natural, apenas com bóias para atracação. Quanto tempo ficará assim , de modo minimal, abrigo para mareantes em passagem, ou apenas como destino para um mergulho nas praias arenosas. Jantámos arroz de costela, e couves de bruxelas estufadas com mangericão e vinagre balsâmico. Jantámos ao pôr do sol, belo momento.



dia 17 de maio











São Torpes. St. Tropez.

A densidade histórica deste povoado... ( continua no "post" seguinte)

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