Depois de soltar amarras, acomodar os cabos, trabalhar as escotas na tensão certa, vendo o cais afastar-se pela alheta, numa sonolência tépida causada pelo gradual afastamento da linha de costa, deixando cair a mão tranquila na roda do leme, quando o sol irrompe pelo intervalo das velas, inundando de ouro branco o convés, é nesse momento que pensamos... porquê o Brasil ?
Uns dizem que foram os Alíseos, esses ventos cruciais para as navegações em mar alto, e guardados em segredo, ingenuamente dentro de uma garrafa, simetria de aladino, esses ventos que nos levaram até à pimenta, ao cravinho e ao Japão, e nos fizeram descobrir a ilha dos amores, desvio de rota de um poeta gerreiro e marinheiro. Glória de mandar, vã cobiça, eis que por acaso, sem planeamento, surge pela alvorada a baía que mudará a história para sempre.
Guanabara, índia nua na praia, Óh linda!
Como se pode descrever esta baía, em cujas águas, depois das índias, se banhou Carlota e a mulata de cujas bondades se duvidava no reino, mas que foram firmemente confirmadas com irrevogável exatidão por D. João V, que decretou e com razão que a mulata era boa.
As Tágides e as mulatas, pena a Ópera do Tejo se ter afundado no terramoto e toda uma esplendorosa era de possibilidades.
O brasil, porquê o Brasil? Porque nunca na verdade soubemos das razões do seu descobrimento tardio, ou achamento, (no meu tempo achamento confundia-se com agachamento, imagem imprópria para se dizer do começo de um Povo) pelo que sublinharei, sempre, descobrimento, até porque quando encontrados pelos navegadores andavam muito índios e índias muito descobertos.
Um Brasil de ponta e mola, culatra e revólver, de riquezas infindas e onde se sofre de dimensão, de fome e de afastamento e onde o código genético do português implantou respeitinho pelo poder, submissão e revolta, oportunamente apropriada pelos novos ventos das Américas livres, risco ao meio, circulo e esquadro, compasso de uma nova ordem e progresso, agora acrescentado com o messianismo de já ir.
Brotou, como que por sabedoria ìndia o barroco em plena selva, a selva amazónica ela própria obra prima da natureza, barroco em tons de verde e sonoridades canoras por oposição a violinos e dourados. Plumas em vez de vestes, hábil subtileza natural que nos faz voar.
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