O palavreado a bordo ia também ele deslizando, deslizando, por vezes não sentimos a falta que o silêncio faz, e nestas circunstâncias de setembro, receamos o silêncio talvez porque ele nos lembre o fim do verão, e como é bom colher os frutos que se aproximam, e aqueles que já colhemos e que bom ano de colheitas vai ser este, pelo menos esta viagem inesperada e promissora e as uvas que se atrasam na maturação e as vindimas que estão a decorrer ao longo das encostas, planícies e conclaves de terroirs minerais e argilosos, por vezes calcáreos por vezes graníticos como a força do pensamento que não bebe na mesma terra duas vezes, assim como a água que nunca repete a passagem pela ponte.
Era isto que decorria sob ponte da varela , e as velas a bater inevitavelmente abanando os silêncios e a pachorrenta travessia, eis que a Torreira se revela depois das arcadas da curva suave e engenhosa da ponte.
Continuamos sem tocar o fundo, e o vento que agora trazia um nevoeiro á mistura e um frio que nos obriga a uma agasalho circunstancial, passando a torreira chegamos à praia e atracamos na areia, que belo barco este que fica tão bem fundeado na areia. E fomos ao encontro, mais uma vez de duas mulheres que nos esperavam mas que de facto nós é que sempre as esperámos, ali sentadas e curtindo a paisagem e as suas paisagens de relevos e píncaros, termos de "endearment". Voltámos também velejando, coisa rara e sem sobressaltos, apenas o horário e os baixios e o vento de norte, suave mas saltitando o que nos obrigou a bordejar infinita e regularmente até ao Carregal onde chegamos cerca das 19 horas, tudo atrasado, excepto o arroz de tamboril e os brancos esses que ninguém nos tira nem o excesso de mineral, ou argila ou trovoadas fora de época que possam prejudicar as vindimas. Os amigos que ficam e que transportam as diferentes possibilidades de rever o futuro, armadilha vocabular para contornar o tempo que nos falta e que tanta falta nos faz.
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