Mater Ria

A Pedra, a Cultura as diferentes leituras da Paisagem, a capacidade criativa e inovadora, é o que se está a passar em Vila Viçosa com a regeneração de uma pedreira abandonada, agora "sala" de ópera e espaço musical, onde surgirá um museu.
Da ferida profunda, do buraco, da extração de mármore poeirenta e barulhenta, perigosa e brutal, renasce uma outra função que elevará o espírito e coloca a Vila e o país na senda da inovação e criatividade no que diz respeito ao território, á Paisagem e ao desenvolvimento cultural e social. A descentralização e o regresso aos campos e á agricultura. Tudo está relacionado.
Visitei pela primeira vez uma pedreira com o Ricardo Costa, amigo de longa data e companheiro de "Aventura", Pelas serras de Porto de Mós e experimentei uma sensação de grandeza, de escala e de força que raramente experimentamos. As grandes feridas na serra, e os enormíssimos blocos de pedra branca impressionaram-me de tal modo que nunca mais fiquei indiferente a todo este processo "industrial" relacionado com a indústria extrativa, as pedreiras, as galerias das minas. Imaginava pois toda uma série de regenerações para estes espaços, inclusive novas urbanidades concentradas, em oposição ao dispersar urbano por territórios dispersos e "virgens". Jardins, lagos, habitações e outras tipologias também já experimentadas em outros locais, mais avançados no tempo. Estávamos em 1994 ou 95 e Portugal estava pejado de gruas por todo o lado.
Hoje, já sem gruas e sem crédito para novas aventuras, vejo formalizar-se um desses projectos, uma nova urbanidade actrativa e regeneradora, que lançará , sem dúvida, o nome Vila Viçosa para além dos palácios da História, complementando-os e rejuvenescendo essa mesma história.
Em Ovar este discurso de inovação e regeneração custou a entrar e ainda não está assente e assumido como força motriz da urbanidade. Se pontualmente o centro da cidade, sede do Concelho se está a transformar na suas plataformas de mobilidade e de bem estar urbano, já ao nivel do território as coisas ainda não se percebem muito bem, ou não se percebem de todo. Uma excepção: o projecto CicloRia, com mais ou menos coerência de percursos, mais ou menos pedalada na senda da criatividade e inovação, vai surgindo e assumindo um factor estruturante.
A minha luta desde há mais uma década tem sido a ria a Mater Ria , a água, fonte de vida e de mobilidade e riqueza que fez de Ovar uma terra de permeabilidades de caminhos de água, exemplo claro de um território Aquamórfico , em permanente crescimento, desde a idade Média.
Portanto, tenho feito ouvir a minha voz e a de quem partilha a mesma visão de desenvolvimento identitário, procurando sensibilizar os autarcas, os líderes regionais e as instâncias reguladoras e promotoras de desenvolvimento territorial. Em sede do Plano Intermunicipal para a Ria de Aveiro, solicitei a implementação de campos de regatas, em articulação com o plano de navegabilidade da ria, que nem sequer era mencionado no referido plano(!). E em sede do Programa Polis para a Ria de Aveiro tenho apresentado propostas e sempre que surge a oportunidade, e têm sido várias as ocasiões, refiro a necessidade de se implementar o Plano de Navegabilidade da Ria, como factor de desenvolvimento e de mobilidade social. ( Finalmente os Estudos estão a ser elaborados).
Mais recentemente, articulando a rede de percursos cicláveis, e o património naútico local e regional relacionado com a náutica de recreio, e enquanto director da Associação CENARIO, propusemos à sociedade Polis e à Câmara de Ovar a implementação de um espaço destinado a uma estação fluvial relacionada com uma estrutura museológica, no cais da Pedra, no Carregal, em Ovar.
Mas, apesar de se entender facilmente que a posição estratégica de Ovar no topo norte da Ria de Aveiro é de grande potencial, apesar dos estudos de identificação museológica estarem elaborados, apesar da rede de pistas cicláveis estarem defenidas e se articularem com este e outros cais ao longo da ria, esta proposta nunca teve direito sequer a uma resposta. É evidente que as propostas em sede de Programa Polis para Ovar são diminutas e colocam Ovar no segundo ( ou terceiro) plano de desenvolvimento regional no que diz respeito a turismo e património náutico. Como exemplo gritante, refiro que o projecto de requalificação do Cais da Ribeira não contempla a recuperação do cais na sua totalidade, apenas metade...
Será que ao incluirmos a Barrinha de Esmoriz no Programa Polis, perdemos mais uma vez a oportunidade de recuperarmos de modo estruturante a Ria de Ovar? Ou foram as vistas curtas da burocracia autárquica e a ausência de um quadro de desenvolvimento estratégico para a Ria de Ovar que determinaram a pequenez e o curto alcance  das acções Polis?
Para ponderação.
Espero que na nova postura ideológica decorrente da mudança de Governo as contribuições dos cidadãos fora das estruturas partidárias, sejam defenitivamente alvo de ponderação séria e desprovida de preconceitos. Porque a liberdade ainda encontra difilculdades ao passar por aqui...



Vougas e Sharpis 12 , regata troféu "Velas da Ria", organizada Pelo Sharpie Club, pela APCV, pelo CVCN, com o alto patrocínio da CIRA- Comunidade Intermunidipal da Ria de Aveiro.  24 e 25 de Junho de 2011.

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