A Erudição Costeira ou as Novas Oportunidades.


Anuncia-se uma viagem de estudo à Reserva Natural das dunas de S. Jacinto.
Aí, entre os tufos de vegetação dunar e odores a maresia, falar-se-à do desaparecimento das praias, do aquecimento global, da aprovação do orçamento, da influência dos raios gama no crescimento das margaridas e da teoria da deriva dos continentes, enquanto se observam bandos de aves em arribação, rumo ao Sul.
O tempo é dos ambientalistas.
Mas...

Vem isto a propósito das intervenções Polis Litoral da Ria de Aveiro.
Pelos primeiros sintomas da metodologia adoptada pode-se verificar que a requalificação de pontos nevrálgicos para a revitalização territorial, ou regeneração, ou requalificação, ( palavras todas com RE, que implicam a recuperação de uma ideia de território subjacente ás próprias intervenções, alicerçada na dinâmica do passado, (a recuperação dos cais...)  transportando por isso uma carga nostálgica de paraíso perdido, o que é sustentado por um sentimento colectivo, veja-se a questão das maravilhas de Portugal que já o eram...).
A requalificação territorial que se adivinha, dizia eu, aponta caminhos de evasão a um investimento que será em vão por isso mesmo. Pelo que se conhece das propostas vencedoras aos concursos lançados até agora , umas migalhas de euros para tão vasto território.
Desde logo se verifica no caso de Ovar, Praia do Areínho e Cais da Ribeira-pista ciclável da foz do Cáster, os locais com projectos em curso, que as verbas disponíveis para aqueles projectos são muito escassas, ridículas mesmo, se atendermos ao potencial dos locais referidos, e à estratégia de recuperação das estruturas do passado, atitude deveras polémica pois o presente e o futuro necessitariam de muito mais e melhor.
Aqui nota-se evidente uma fraca identificação e inexistente potenciação das características do sítio por parte da CMO, isto apesar de avisadas as instâncias autárquicas da possibilidade de criação de estruturas de apoio ás actividades que sobre a ria se colocam como criadoras de riqueza, com as actividades náuticas e o turismo como territórios a explorar e a viabilizar. Tal facto torna-se evidente se analizarmos as propostas ganhadoras, balizadas por um tecto de investimento que apenas permite ao nível projectual limpar o terreno de folhas secas e inventar uns passadiços de madeira, poucos, uns equipamentos de troncos de madeira, a lembrar as casas da pradaria americana dos filmers tipo Bonanza, culminando no remate do grande e simbólico cais da Ribeira de Ovar com umas instalações sanitárias pré-fabricadas, ignorando por completo a cultura do sítio, a atracação no cais, a crescente amplitude de marés.
É o Pólis-Ria que teremos ou ainda se irá a tempo de encontar meios de colocar no mapa estratégico da Ria de Aveiro a Ria de Ovar?
Entretanto e apesar do encanto das paisagens e do imaginário dunar, cada vez mais reservado a artistas de photoshop em riste e camuflagem encantatória nas propostas a concurso, pensemos na navegabilidade perdida, e nas viagens e passeios até à "Praia do Areínho", regressando pelas imponentes dunas da beira mar, ao sul do Furadouro.
Mais um "paraíso perdido" ?

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