Eu, quando era miúdo pedalava o meu triciclo sob as folhagens das ramadas que cobriam todos os pátios da nossa casa em Válega, onde vivi a minha infância. Aqueles pátios e passeios eram imensos, e no Verão ali pedalava incessantemente fazendo corridas imaginárias entre o tanque de lavar a roupa e um portão que dava para uma viela, portão que era guardado pelo "Benfica" o nosso cão que ali tinha a sua casota. Lembro-me particularmente de uma curva em L , de um lado uma velha pereira e do outro a porta da casa do porco, onde por vezes derrapava em grande estilo, e por outras sem estilo nenhum...
Este triciclo um dia foi montado e pedalado por uma prima de Lisboa , que era mais velha e grande, e claro, ao fim de duas pedaladas, o tricíclo não aguentou e partiu.
Foi das coisas mais tristes que me aconteceram e ainda hoje lembro a tristeza que senti durante muito tempo, olhando o triciclo partido, apesar de tentarem em vão consertá-lo o que nunca aconteceu eficazmente.
Entretanto cresci e veio a idade da bicicleta, que me levou na descoberta do território para além dos pátios daquela casa.
Entretanto cresci e veio a idade da bicicleta, que me levou na descoberta do território para além dos pátios daquela casa.
Mas a imagem do triciclo partido e do seu consequente abandono permanece naquele canto do eu onde se guardam as angústias dos brinquedos perdidos para sempre.
Talvez seja a vontade de recuperar todos esses brinquedos que me levam a recuperar barcos partidos e abandonados, quase irrecuperáveis. Talvez seja uma tentativa de recuperar todas as corridas que não cheguei a fazer com o tricíclo, agora flutuando sob o céu imenso da Ria, que nestes dias de outono fica fechado e sem sol.
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