O parque das ciências do mar


Hoje na APDL o mar e a oceanografia .


No curto intervalo de três dias presenciei a apresentação pública de dois importantes projectos de investimento na área das zonas costeiras e que contribuem para o chamado "cluster" do Mar: o Pólo de Ciências e Tecnologias do Mar apresentado na APDL (Administração do Porto de Leixões), em Leça, e o arranque do programa Polis Litoral-Ria de Aveiro, apresentado em Ovar.
Estes eventos, de natureza e alcance diversos, reuniram uma cuidada envolvente mediática e cénica ou não estivesse o Governo de Portugal aqui representado ao seu mais alto nível, Ministro das Obras públicas e Secretária de Estado em Matosinhos, primeiro Ministro, Ministro do Ambiente e Secretário de Estado, em Ovar.
Para além das figuras governativas pontuaram autarcas e reitores, vice-reitores e vereadores, autoridades marítimas e portuárias, Administração de Portos, técnicos, jornalistas e outros que, como eu, resolveram cuidar da observação do processo comunicativo destes importantes projectos à sociedade. Num caso, houve lanche e café, no outro, o sol radioso de uma manhã de Fevereiro.
De relance, tenho a dizer que me impressiona a forma monocórdica e monótona na forma de vestir dos homens, todos de fato cinza escuro, misturando-se os seguranças e os reitores, e os presidentes de câmara e directores gerais e ministros todos na mesma aparência solene, destacando-se nesta monotonia o vermelho da gravata do sr. Primeiro Ministro…
Mas, aparências à parte, o que interessa é referir a diferente natureza, o alcance e os contextos diversos de cada programa apresentado.
No caso de Matosinhos, observámos o lançamento de um projecto concreto, um conjunto de obras estruturantes para a cidade e para a região, ancoradas num novo terminal de cruzeiros, pretexto para a construção de um edifício marcante, resolvendo também um novo Porto de Recreio. Nesse novo edifício, cuja arquitectura nos remete para uma espécie de "Gugenheim torcido", uma Zaha-Adhid em aspiral, vai funcionar o pólo de investigação das ciências do Mar, local onde se processará uma forte inter-acção com a cidade envolvente. Num outro edifício das instalações portuárias recuperado para o efeito, funcionará um centro "incubador" de empresas relacionadas com a economia do mar, e ainda será construída uma rsidência universitária para docentes, a instalar no tecido urbano de Matosinhos.
No caso do Polis-Ria, é mais difícil concretizar uma síntese, pois ainda não estamos na fase de lançamento de projectos concretos. O Pólis não é um projecto, é um programa que levará á implementação de um conjunto de projectos e acções articuladas pelos territórios de vários concelhos, segundo uma estratégia onde a navegabilidade e a mobilidade terá um forte sentido prioritário. È portanto um programa complexo e mais difícil de concretizar.
Num e no outro casos verificamos que se trata de investir no desenvolvimento de uma economia onde o turismo representa um papel importante, sendo que, no caso de Matosinhos, a Universidade do Porto se coloca nos territórios da APDL com um pólo universitário e de investigação virado para o exterior.
Esperamos que o mesmo tipo de envolvimento, neste caso com a Universidade de Aveiro, possa ser seguido no caso do Programa Polis-Ria, tendo como pano de fundo a Ria de Aveiro e o seu enorme potencial, ambiental, paisagístico económico e cultural. E, se simbólicamente tivemos a cerimónia de lançamento deste Polis em Ovar, não seria bom concretizarmos este simbolismo colocando aqui no Carregal mais propriamente, uma intervenção que desse um sentido complementar ao já existente Porto de Recreio? Parece-nos evidente que este local está carente de uma intervenção cujo programa evidencie a recuperação paisagística e a implementação de novas funções que se articulem com uma estratégia de desenvolvimento assente no turismo, mas não só…
Se por um lado a iniciativa privada está mais vocacionada para implementar estruturas turísticas como hotéis, restaurantes e circuitos regionais, gerindo estes investimentos com o fim da sua própria sustentabilidade económica, já outro tipo de investimentos também estruturantes e necessários terão que ocorrer com o auxílio de dinheiros públicos pois áreas como a identidade e memória, a preservação da natureza, a interpretação ambiental, urbanística e museográfica, não se podendo sustentar a si próprias tendo em conta os investimentos necessários, necessitam de uma visão integradora que só pode ocorrer ao nível dos investimentos autárquicos ou inter-municipais que se estão a "desenhar" com o programa Polis, e que poderão dar valor acrescido à recuperação dos cais antigos da Ribeira, Tijosa e Puxadouro.
Também, e a exemplo do que fizeram a CCDRN (Comissão de Desenvolvimento e Coordenação da Região Norte), a Universidade do Porto, e a Câmara de Matosinhos, reunindo-se para concluir que o turismo resultante do movimento turístico dos grandes navios de Cruzeiros Atlânticos por si só não resolve todos os nossos problemas, assim deveríamos nós concluir noutras escalas e contextos que a Ria não é só turismo, nem pesca, nem paisagem contemplativa, è também educação e cultura, áreas que se esperam ver implementadas nos projectos de desenvolvimento do Polis Ria.
Neste sentido deverei ainda mencionar a excelente conferência que acompanhou o evento de Matosinhos, sob a responsabilidade de um oceanógrafo da Universidade do Estado de Washington nos Estados Unidos e que entre muitos e interessantes aspectos realçou a enorme potencialidade que representa para o futuro o estudo, em profundidade, do Mar.
A meu ver, nestas cerimónias de lançamento destes importantes projectos, faltaram, em Matosinhos o ministro Mariano Gago, e em Ovar o Senhor Ministro da Cultura.
Helder Ventura


Imagem da marina, do centro de ciencia, e do cais de acostagem de navios de cruzeiro...
( arq. Pedro Silva)

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