Floreando pelas nuvens laranja

Os acompanhantes das aventuras de Padre Bartolomeu a bordo da sua passarola voadora errando pelos mares do Sul, pelo Ìndico, e até sobrevoando as intermináveis estradas do Wyoming, recordar-se-hão de como em tempos pré eleitorais os lusos navegantes errantes experimentam uma inusitada queda para o drama, para a potenciação do exagero a níveis nunca dantes experimentados.
Este fenómeno, que encontra o seu paralelo genético nos confins da história, na célebre aldeia gaulesa imaginada por Goscinny e Uderzo logo que o bardo inicia aquele canto experimentalista, estilo muito vanguardista para a época e que provocava as mais irracionais reacções entre os ouvintes , perturbando a ordem pública, este fenómeno reativo/irracional dizia eu , tem a sua contemporânea descendência viva nos comportamentos dos lusitanos, particularmente em épocas de embates "politoco-eleitoral", que se avizinham.
Vamos portanto mais uma vez a bordo da famosa passarola do padre jesuíta, algures sobre Lisboa... mais uma viagem pelas fronteiras do tempo, onde diversos personagens da nossa história se continuam a encontrar, em homenagem à miscigenação dos tempos:

Padre ( de luneta , observando do alto da Graça) - "Ora vejam, já estão a pensar numa nova ponte sobre o Tejo..."
Poeta - "Mas como pode ser, outra ponte ? Não bastava a do Gama? E as Tágides o que pensam as Tágides?"
Ninfas ( em uníssono) -"Queremos mais, queremos mais, sempre mais fontes... Lagos e fontes e poetas..."
Poeta - "Não são fontes, são pontes..."

( nisto uma rajada faz derivar a passarola perigosamente, passando esta a escassos centímetros de um dos pilares da ponte 25 de Abril . A manobra de estabilização acorda D. Fuas) .

Roupinho, (erguendo-se num salto, desembaínha a espada...) - "Estamos a ser abalroados ! às armas!"... Mas observando a espantosa estrutura pensil da ponte, atónito exclama: -" Que grande Nau!, mas não é uma nau, é um... é um ... arco inverso...

No outro extremo da barca voadora, a luneta telescópica de padre Bartolomeu continua na descoberta de mais grandes obras pelo solo luso, grandes feitos edificadores de novas pirâmides, túmulos do progresso. Mais auto-estradas, mais barragens, mais obras de referência. Encontra misteriosos sinais encriptados de um combóio veloz, mais veloz que o super carro... Que fazer?

Entrementes, lá para o Norte, nas margens de um rio, o conde de Sta Eulália recentemente demissionário de uma das agremiações mais originais do reino, sofre as agruras de César...
Conde - " Também tu, Brutus...? eu que até estou calado em relação ao TGV... e sei que não devia... " e antes que fosse tarde o conde agarra-se ao cabo que da passarola libertadora pende, entra em levitação. Enfim, livre... Inicia o canto do cisne, e repentinamente provoca nos nautas voadores o ressurgimernto da memória do célebre bardo, o dos gauleses...
D. Fuas - " Suba suba, conde, agora é sempre a subir, não vê como aqui do alto as coisas são mais claras e evidentes ?"
Conde- " Oh! que visão magnífica lisboa assim parece linda... se tivesse subido aqui antes veria mais claro ... mas onde está o padre? quero confessar-me".
Poeta - " ó conde, o padre agora está ocupado, venha aqui que lhe apresento as ninfas...
ninfas - " Um conde, um conde, foge cão que te fazem barão..."
Conde - ( pensa) " Se pelo menos houvesse poção mágica."
Mas, a poção mágica desaparecera subitamente logo após a sua eleição como chefe da agremiação, ala norte, ele que tinha ficado irremediavelmente preso a uma frase sobre sulistas e liberais. Injustiça.
Mais uma traição, a poção mágica tinha sido substituida por óleo de fígado de bacalhau, só para incriminar o Ribau. Memórias dos bacalhoeiros de Ìlhavo, em demanda de terra nova.
Estava ainda a observar o território com sua luneta, o padre jesuíta, quando de súbito ribomba o trovão com estrondo ruidoso intenso... " Grumahahahahahahum! "
Era Zeus que se manifestava contra o conde subir a bordo da passarola. Definitivamente estava com a estirpe socrática...

O pior é que a estirpe Socrática se anunciava como mais uma dominação sem precedentes, vilipendiando a confiança neles depositada pelos ingénuos lusos. Mestres da arte de apagar memórias vindouras, veja-se o caso do sr. Coelho, o da memória na política, de caminho para a MOTA-Engil, exercitando a possibilidade da amnésia ao poder. Vias de consolidação de mais do mesmo...
O conde agora via claro, mas já era tarde demais.
Que fazer?
Talvez nas fontes...
Como dizia o Pedroso Abrunheiro.
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( música - Bach e um cálice de porto)

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