"Distopia 2"



" no contexto da demanda do já referido "grão cataio" ...

As naves e as passarolas voadoras asinaladas, desenhavam círculos excêntricos nos céus.
Agora, sem luneta telescópica pois já não necessitava dela, o padre jesuíta deslocava-se para vante e para ré, contornando enormes caixas forradas a titâneo. Estas caixas continham os registos de todos os que se tinham inscrito para a grande viagem. Os códigos genéticos , a proveniência de cada um, só possível desde que a genética se transformara na grande arma dos arqueólogos e caçadores de estirpes perdidas. Questionava o padre, a utilidade de tanta informação a bordo quando, de súbito, uns gritos estridentes soaram ali perto...
Uma ninfa debatia-se com um Halograma tridimensional horroroso que não a deixava em paz, e D. Fuas, o nosso D. Fuas Roupinho, protejendo de perto as ninfas, ainda não percebera como utilizar os comandos à distância para desligar o Halograma. Para D. Fuas, entretanto mais cansado e sem a chama que o levara ao precipício no Sítio perseguindo uma donzela ( muitos pensam que era uma gazela...), o melhor instrumento para pôr cobro a uma quezília ainda era a espada. "Não há nada melhor que uma boa toledana, mesmo para além da trapobana", dizia, olhando de soslaio o poeta, que se incomodava com aquela usurpação dos seus direitos de autor... Incomodado com a ousadia do Halograma, desenbainhara a espada e zás, trás, cortava a meio e em dois a figura halográfica que, indiferente ás tecnicas de espadachim de D. Fuas continuava envolvendo a ninfa em plasma intra-molecular o que conferia à cena uma atmosfera deveras futurista, de cores indizíveis. Nisto, um enorme estremeção percorreu a passarola de vante á ré... uma das caixas mais importantes tombara, caindo no abismo. D. Fuas observava atónito a imensa multidão de grossos cabos que irrompiam da tépida neblina, subindo do pétrio solo pátrio ali pelos lados do maciço Monte Junto - Estrela, próximo da sua maravilhosa terra, "Portus Molarum"... Um dia havia de regressar e reclamar o que era seu, mas por ora tinha decidido permanecer na passarola, pois o jesuíta ainda tinha esperança na retoma do poder pelos sábios do laranjal... O momento era crítico no reino.
Era necessário salvar a estirpe Laranja dos fungos internos que atacavam as sementes, condição necessária à sobrevivencia entre os espinhos afiados da Rosa, cada vez mais poderosa... Para D. Fuas tratava-se de combater os sarracenos, agora disfarçados de côr de rosa... era assim que ele entendia o que se passava no solo péteo-pátrio, e o padre jesuita já se tinha arrependido de um dia lhe ter dito que em Portugal ( palavra que ele desconhecia) já não havia rei.
D. Fuas esteve prestes a matar o poeta, pois as grandes desgraças para ele resultavam dos devaneios poéticos que distraiam o povo, e a culpa era dos poetas, que andavam quase todos de Bloco Canhoto, a usurpar as utopias, esvaziando as arcas mais livres e disponíveis que só se encontravam fora das Grandes Lojas, espécie de centros comerciais do poder.
Para homens como D. Fuas apenas bastava reconhecer claramente o inimigo, tarefa quase impossível na diversidadede de realidades virtuais que se criavam a cada segundo, cada vez mais difíceis de conter graças á intermutação entre as células e o plasma intra-molecular... Já não havia segredos no campo da citologia.

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