Apesar de já ter decorrido algum tempo, mesmo assim aqui divulgo um artigo de opinião publicado neste semanário ovarense. Pode parecer fora de tempo, ou talvez não.
" CONTOS DA LOUCURA NORMAL "
"Poderia desde já escrever sobre a comemoração dos cem anos da República Portuguesa, que se aproxima. Mas, falar da República implicará se formos sérios e honestos, falar do duplo assassínio que possibilitou a sua implantação em 1910 ; o regicídio. Sei que corro o risco de me acusarem de tentar “reescrever a história”, apesar dos factos, motivos e intervenientes no gesto terrorista de 1908 estarem perfeitamente identificados.
Nestes tempos de centenários, não posso deixar de referir a minha simpatia e admiração de longa data, pela família real portuguesa do início do século XX simpatia que se consolidou a partir do momento em que visitei a Casa de Bragança em Vila Viçosa, aí por meados dos anos 80. Uma família portuguesa, privilegiada é certo, mas culta, sensível e com uma visão do mundo muito para além da Trafaria, imagem diferente daquela fornecida pelos livros oficiais da história, porque formatada por certa elite intelectual, a mesma que caricaturou a imagem de D. Carlos até à morte. Uma família como tantas outras que se encontram pelas “ esquinas do tempo” ao longo da nossa história e das quais não se fala ou se evita falar, porque incomodam e “ficam mal na fotografia”.
Sim, corro o risco de me apelidarem de monárquico e de tentar “reescrever a história”, frase que procura surtir efeito paralizante, ao sabor de uma corrente de grandes intelectuais que apenas conseguem vislumbrar um dos lados da esfera armilar, o lado momentaneamente iluminado pelos seus interesses politico-partidários. Ossos do ofício.
Falava eu da comemoração dos cem anos da implantação da República e de como os respeitosos valores da ética republicana, ( a valorização do mérito pessoal, o progresso para todos, a vida em busca da excelência, o indivíduo ao serviço do colectivo…), são de tal modo uma constante na sociedade portuguesa, ao ponto de terem de ser lembrados em discurso presidencial dos mais recentes. Hoje como no passado?
Andava eu nestas observâncias histórico-contemporâneas, auferindo do privilégio próprio da democracia que é poder escrever e divulgá-las, quando me chegam notícias da chegada triunfal de novo herói Luso, liderando os profissionais inscritos na Ordem dos Advogados, o fenómenal Marinho Pinto, cujas tonitruantes palavras, apesar de não serem originais, soam como chicotadas nas eminentes cabeças pardas que pululam pelos corredores das relações politico-económicas. Será cavalo, este Marinho, ou estará a ser precipitado, como o “momentâneo de Scolari”, para a burrice? Vou esperar, não vá dar-lhe a síndrome de Cravinho.
A propósito de momentâneos, acabo de ler que o Tribunal de contas aplaudiu a rescisão do contrato para as obras no túnel do Rossio entre a Refer e a Teixeira Duarte, o que fez com que o Estado poupasse uns parcos 11 milhões de euros, afinal temos ou não temos notícias positivas demonstrando que o Estado funciona? Mas logo o meu optimismo se extingue, está mesmo irrecuperável por tempo indeterminado, porque me caíram em cima via e-mail, as obras que enquanto engenheiro técnico civil José Sócrates terá projectado e dirigido quando trabalhava na Covilhã nos idos dos anos 80 e 90 do século passado. Pelo que se diz e escreve, assinaturas nos projectos de um técnico que hoje é chefe de divisão na Câmara Municipal da Guarda e que também terá lugar de destaque na estrutura regional do partido que, como os eucaliptos, tomou conta de quase todos os terrenos aráveis de Portugal.
Eu, como arquitecto activo nas estruturas amadoras desta ordem profissional durante anos, sinto-me completamente vilipendiado do tempo que me dispus conceder à nobre causa de bem projectar e ordenar o território, nomeadamente lutando e assinando pela revogação do célebre decreto-Lei 73/73, revogação incómoda que se arrasta pela Assembleia da República, como outras que ferem interesses de legitimidade duvidosa de deputados e advogados de gabinetes próximos.
Claro que tudo se resolverá pelas mãos de um General, Garcia Leandro, que tem sido aconselhado a pôr na ordem este país, e que preconiza agitações e revoltas no tecido social para os próximos tempos, território propício a um levantamento heróico-cavalar qualquer. Afinal, na dúvida e para resolver os nossos problemas teremos sempre a possibilidade do cavalo-marinho...
Portanto, pacientes leitores, ao abrirem a porta de casa para sair à rua, convirá relembrar, conscientemente, a célebre resposta de Salvador Dali, quando um jornalista lhe perguntou se era louco. Respondeu o célebre pintor: “ Saiba que a única diferença entre mim e um louco é que eu, não sou louco”.
Helder Ventura
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" CONTOS DA LOUCURA NORMAL "
"Poderia desde já escrever sobre a comemoração dos cem anos da República Portuguesa, que se aproxima. Mas, falar da República implicará se formos sérios e honestos, falar do duplo assassínio que possibilitou a sua implantação em 1910 ; o regicídio. Sei que corro o risco de me acusarem de tentar “reescrever a história”, apesar dos factos, motivos e intervenientes no gesto terrorista de 1908 estarem perfeitamente identificados.
Nestes tempos de centenários, não posso deixar de referir a minha simpatia e admiração de longa data, pela família real portuguesa do início do século XX simpatia que se consolidou a partir do momento em que visitei a Casa de Bragança em Vila Viçosa, aí por meados dos anos 80. Uma família portuguesa, privilegiada é certo, mas culta, sensível e com uma visão do mundo muito para além da Trafaria, imagem diferente daquela fornecida pelos livros oficiais da história, porque formatada por certa elite intelectual, a mesma que caricaturou a imagem de D. Carlos até à morte. Uma família como tantas outras que se encontram pelas “ esquinas do tempo” ao longo da nossa história e das quais não se fala ou se evita falar, porque incomodam e “ficam mal na fotografia”.
Sim, corro o risco de me apelidarem de monárquico e de tentar “reescrever a história”, frase que procura surtir efeito paralizante, ao sabor de uma corrente de grandes intelectuais que apenas conseguem vislumbrar um dos lados da esfera armilar, o lado momentaneamente iluminado pelos seus interesses politico-partidários. Ossos do ofício.
Falava eu da comemoração dos cem anos da implantação da República e de como os respeitosos valores da ética republicana, ( a valorização do mérito pessoal, o progresso para todos, a vida em busca da excelência, o indivíduo ao serviço do colectivo…), são de tal modo uma constante na sociedade portuguesa, ao ponto de terem de ser lembrados em discurso presidencial dos mais recentes. Hoje como no passado?
Andava eu nestas observâncias histórico-contemporâneas, auferindo do privilégio próprio da democracia que é poder escrever e divulgá-las, quando me chegam notícias da chegada triunfal de novo herói Luso, liderando os profissionais inscritos na Ordem dos Advogados, o fenómenal Marinho Pinto, cujas tonitruantes palavras, apesar de não serem originais, soam como chicotadas nas eminentes cabeças pardas que pululam pelos corredores das relações politico-económicas. Será cavalo, este Marinho, ou estará a ser precipitado, como o “momentâneo de Scolari”, para a burrice? Vou esperar, não vá dar-lhe a síndrome de Cravinho.
A propósito de momentâneos, acabo de ler que o Tribunal de contas aplaudiu a rescisão do contrato para as obras no túnel do Rossio entre a Refer e a Teixeira Duarte, o que fez com que o Estado poupasse uns parcos 11 milhões de euros, afinal temos ou não temos notícias positivas demonstrando que o Estado funciona? Mas logo o meu optimismo se extingue, está mesmo irrecuperável por tempo indeterminado, porque me caíram em cima via e-mail, as obras que enquanto engenheiro técnico civil José Sócrates terá projectado e dirigido quando trabalhava na Covilhã nos idos dos anos 80 e 90 do século passado. Pelo que se diz e escreve, assinaturas nos projectos de um técnico que hoje é chefe de divisão na Câmara Municipal da Guarda e que também terá lugar de destaque na estrutura regional do partido que, como os eucaliptos, tomou conta de quase todos os terrenos aráveis de Portugal.
Eu, como arquitecto activo nas estruturas amadoras desta ordem profissional durante anos, sinto-me completamente vilipendiado do tempo que me dispus conceder à nobre causa de bem projectar e ordenar o território, nomeadamente lutando e assinando pela revogação do célebre decreto-Lei 73/73, revogação incómoda que se arrasta pela Assembleia da República, como outras que ferem interesses de legitimidade duvidosa de deputados e advogados de gabinetes próximos.
Claro que tudo se resolverá pelas mãos de um General, Garcia Leandro, que tem sido aconselhado a pôr na ordem este país, e que preconiza agitações e revoltas no tecido social para os próximos tempos, território propício a um levantamento heróico-cavalar qualquer. Afinal, na dúvida e para resolver os nossos problemas teremos sempre a possibilidade do cavalo-marinho...
Portanto, pacientes leitores, ao abrirem a porta de casa para sair à rua, convirá relembrar, conscientemente, a célebre resposta de Salvador Dali, quando um jornalista lhe perguntou se era louco. Respondeu o célebre pintor: “ Saiba que a única diferença entre mim e um louco é que eu, não sou louco”.
Helder Ventura
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