Após as grandes chuvas de meteoros que fulminaram as encostas de Var e Ovarim, o sábio Merloc quase se esquecera das emanações pós-poéticas que se inscreviam nas paredes de terra e cal, e que, como que por fatalidade permaneciam. "Claudine, Je t`aime", dizia-se a frase enigmática que fizera com que ondas comunicacionais permanecessem para lá dos subterâneos do templo, e tivessem criado uma dissonante vibração, ruido de fundo semelhante ao som das ondas do mar ao longe, quase irreconhecível, que só os sábios captam, assim como na história do tecido que cobria o rei nú.
A cidade construída sobre os sedimentos, num caldo iniciático de águas borbulhantes, parecia frágil e impossível, mas a plasticidade do solo viria a ser a sua principal força, já a tinha resgatado do esquecimento por duas vezes. Terminadas as referidas chuvas estrelares, a Merloc - Ploc cuja tarefa era a de guardar os últimos pecúnios, não restava outra solução que não fosse rumar ao Norte.
Graças aos raros pecúnios, e a memórias de Argentibes e Alumério, em cuja essência se poderiam encontrar vestígios do nascimento do Sol, era por ali que se dizia as chuvas não terem afectado as frágeis construções de barro, adobe, e canízia. Nos labirintos das águas verdes e ondulantes, ao som do vento, a frota navegava orçando firme, aguardando o som das trompas de Dagares.
Merloc afilou a barba hirsuta e longa cujo colorido ruivo desaparecera há muito e, com o olhar, perscutou o horizonte. Aguardou uns momentos e com um gesto subtil, similar ao lançamento da semente durante a sementeira, transformou gradualmente a percepção diurna da paisagem, num lusco-fusco crescendo em Luar imenso, imensa lua sobre as tépidas águas da laguna, enclave aquamórfico entre os montes de Sefes e o Mar Oceano.
As embarcações embaladas por vento suave de Sul singravam sobre a superfície acetinada das águas, invisíveis.
Merloc sabia estar próximo o Rio necessário à permuta das águas .
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