Andava eu a passear junto a um ribeiro rico em vegetação, por entre as canízias, buscando garças, pois estamos em Maio, e deparei com uma Graça, uma verdadeira garça entre as Graças:
"- Olá, então por aqui... já viu as garças hoje ? "
Que não, que andava a ver se encontrava a Rubi-Rosa...
" Não sei se sabe, daquelas rosas sem espinhos, que em vez de espinhos têm rubis, e umas pétalas sedosas... de um vermelho luminoso... e um odor magnífico..."
" - Rosas com rubis? Em vez de espinhos?...Sim , creio já ter ouvido falar...( mentira) mas nunca conheci nenhuma, julgava eu que até nem existiam..."
" - Existem pois! são umas flores muito especiais que só atingem a cor rubi em Maio, se não chover muito... e por incrível que pareça surgem expontaneamente como os lírios no campo, mas muito raramente."
-E procura Rubi-Rosas, aqui, na Ota ? "
-" Mas porque não? Se existem pirilampos, também podem existir Rubi-rosas..."
-" Nunca percebi muito bem porque procuram as pessoas rubi-rosas..."
- " Talvez pelas mesmas razões que algumas pessoas procuram garças... para saberem que existem, antes que seja tarde, não é?
- Sim, sem dúvida as garças existem ... e com elas, com as garças, podemos imaginar uma alternativa aos aviões, e com os rubis, oh! como ficariamos todos contentes...
" - Mas olhe que engraçado, no fundo os aviões são assim como garças gigantes... Mas sem graça... ( risos)
- "Sem graça? Então e aquela ave rara, a passarola de padre Bartolomeu, ?"
"- A quê !? " ( silêncio,) .
" Não me diga que nunca ouviu falar do jesuita... o da Passarola... sabe ?" ( Risos)
- "Sim, já ouvi falar... ( mentira) , julgava que era alguma história dos livros..."
- "É que ele também andava em busca de transportes alternativos... As naus levavam muito tempo e perdiam-se pelos mares e oh! ... pelos piratas ingleses..."
- "- Sim é verdade... Mas já reparou que , após Bartolomeu, só voltámos aos céus com o Gago Coutinho, o do Lusitânia ?"
- " O Lusitânia dos Açores? ( risos)...
E assim continuou a conversa até sentirmos um pouco do frio húmido da erva onde nos tinhamos deitado invadindo os nossos corpos nús, as nossas roupas espalhadas pelas canízias em redor, e, quando ela se levantou cheia de graça, reparei que finalmente via uma garça...
" - Que profissão mais curiosa e interessante deve ser essa de observador de pássaros", pensei.
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