O eterno dilema dos engenheiros. A falta de prática.



Nunca na minha vida de arquitecto subestimei a engenharia e os engenheiros, apesar das provocações. E também não é agora que o farei.
Prefiro a política mesmo.
Pelo que, sabendo que o aeroporto da Ota vai custar mais um terço do que o que seria normal só pela preparação da sub-base, ( já faltava aqui um especialista...), proponho que esse dinheiro a mais que será (?) pago a empresas de transporte, terraplanagem e compactação de terras seja investido em projectos de reforço da rede museológica nacional, e algum dele seja gasto na recuperação da navegabilidade da Ria-Norte, e não me venham por favor com os impactos ambientais na Ria de Aveiro, senão eu pergunto-lhes onde estavam esses estudos e os defensores do "ambiente" e dos estrudos de impacto quando das obras de consolidação do porto de Aveiro efectuadas nos últimos 15 anos. Estas obras aumentaram a amplitude de marés em toda a bacia do baixo vouga chegando no canal de Ovar a atingir os 40 cm de diferença, devem saber calcular o volume de água necessária para subir em média 40 cm numa área que vai da Murtosa, Torreira, Estarreja, Ovar, e o que significa ésse volume de água do mar entrando pela barra adentro e na transformação brutal do grau de salinidade da água nos canais secundários, e a quantidade de espécies que desapareceram, nomeadamente solhas e linguados, e uma espécie de taínha que chegava a atingir 5 quilos ( por vezes mais) e uns bons 70 cm de comprimento, que se refugiava no moliço, a célebre alga que deu origem ao moliceiro e que desapareceu totalmente da Ria, sim não há mais moliço na Ria, agora é só lodo, camada de sedimento finíssimo sobre o fundo arenoso, aumentando cada vez mais, e que pelas correntes fortes que a referida amplitude de marés provoca desagrega as margens e transporta o que durante séculos se retirou da ria para criar áreas agrícolas e praias de junco, agora está a ir tudo de volta para a ria, pois a água salgada sobe para cima dos campos e canaviais, diminuindo drásticamente as áreas de nidificação, secando as plantas, imaginem o que é a água subir em média 40 cm numa zona plana... e os patos e as garças necessitam de um pouco de solo firme para os seu ovos... já se vêem patos a nidificar em zonas pertíssimo das áreas urbanas, coisa que não acontecia, e falava eu de recuperar a navegabilidade da Ria, os desportos náuticos sobretudo a vela ligeira e os campos de regatas, sim não é necessário desbravar toda a ria com dragagens, mas sim intervir regularmante e sistematicamente em locais específicos de modo ordenado, utilizando os dragados para se criarem zonas de recuperação paisagística, novas paisagens, para os patos e as garças e os homens poderem usufruir da ria, e os pescadores, e os peixes, aqueles que ainda resistem, talvez com a memória genética do que a Ria era, um campo verdejante de diferentes algas, uma rica e variada fauna, e águas transparentes. Era assim a Ria que eu conheci nos mergulhos desde o Carregal á ponte da Varela.
Não é com lodos por toda a baixa-mar que se recupera e preserva seja o que for, só se forem as minhocas que de seis em seis horas ficam a bronzear....francamente sejamos um pouco mais engenheiros.
Estudemos os modelos que ali foram aplicados durante séculos, simplesmente uma limpeza constante dos fundos, com tecnologias rudimentares, e então hoje ficamos de braços cruzados mirando os lodos na baixa-mar ?
Que sentido faz aplicarmos o nosso tempo a passear em centros comerciais ou em pistas pedonáveis junto a filas de automóveis, respirando saudavelmente os escapes do pára-arranca?
O tempo não seria melhor aplicado fazendo passeios na beira ria? Ou vela? ou canoagem? Houvessem condições para isso ...
Claro que o ver e ser visto não seria a mesma coisa, os corpos passeantes em toiletes bem tratadas, nada contra, pois de "voyeurs" todos temos um pouco... mas a surpreza de um encontro entre as canízias, "olá, então por aqui... já viu as garças hoje ?".
E as garças transfiguram-se em cisnes e os cisnes em veleiros e os veleiros levam-nos até à Rubi-rosa e um dia até ao mar...
Se bem se lembram a minha proposta era dar uma utilidade diferente aos dinheiros dos trabalhos a mais da OTA. Uma Organização de Trabalhos Alternativos... Mudar o paradigma.
Temos mesmo que ser contra o fado... Deixemos lá as tias...
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