O mundo antes pelo contrário
Custa-me assumir este facto, mas de momento não sei sobre que escrever. Apesar de existirem de momento, temas em fartura, ou talvez por causa disso mesmo. Primeiramente pensei escrever, à luz da teoria dos telhados de vidro, sobre a recusa do PS em aceitar as propostas legislativas do eng. João Cravinho visando a luta anti-corrupção mas esse tema exige aturada investigação, muito longe dos meios que este jornal me põe à disposição. Lembrei-me assim de repente de Carlos Pimenta, o ambientalista, e da sua enérgica promoção para Bruxelas, mas uma coisa não tem nada que ver com a outra.
Pensei também escrever sobre a viagem presidencial à Índia , e de como conheci goeses no tempo em que trabalhava nas obras, mas este tema merece um lugar de corpo inteiro num outro espaço, e sobre a picante viagem do Presidente Cavaco temos aqui em Ovar quem tivesse ido na comitiva podendo portanto escrever melhor do que eu bobre o tema. Poderia ainda debruçar-me sobre a questão do reembolso das “Joanas-do-arco-da-velha”, escalpelizando o recuo estratégico por parte da Fundação do Carnaval em vésperas do Grande Corso, e com isto colocar em dia a necessária e inevitável polémica anual em torno do Carnaval, sem a qual Carnaval não é Carnaval. Mas este assunto vem do passado, agora o Carnaval já é outro.
Pensei também em escrever sobre a inflacionária adjectivação pró-mediática dos mega-processos judiciais, “apito dourado” “operação furacão” , “rebéu-béu, pardais ao ninho”, mas convém lembrar que os processos estão sob investigação e não posso divulgar o que não sei. ( Neste contexto senti-me, mais uma vez, tentado a escrever sobre a necessidade de estudarmos as propostas legislativas de João Cravinho ).
Temos ainda o incontornável referendo sobre a IVG, a pergunta, o país real, o país ideal, mas depois do que disse o professor Marcelo, e o professor martelo, o melhor é estar calado. E sobre a viagem de José Sócrates à China e a tão sublinhada ideia de que temos uma relação privilegiada com África, e mão de obra barata no quadro europeu ? Um bom tema, mas caiu por terra, pois o presidente chinês está de visita a Moçambique... e acabei agora de saber o resultado do inquérito (anónimo) aos arquitectos portugueses que demonstram que 40% destes profissionais ganham menos de 500 euros por mês. (Por um instante já nem me lembrava das propostas legislativas de Cravinho ...)
Já a ficar desesperado, eis que temos a notícia de que uma máquina escavadora foi apreendida por andar a retirar areia em trecho da reserva ecológica, mas sendo esta matéria do quotidiano, não é notícia de relevo. Notícia seria andarem as retro-escavadoras a passear pelas ruas, disfarçadas de carros de carnaval, e ninguém as ver, como tem acontecido ao longo de muitos milhares de metros cúbicos de extracções .
Finalmente, temos notícias de Lisboa mais concretamente da Câmara, mas, após o visionamento de um vídeo em que o eng. Carmona anda aos tombos de bicicleta pelas escadarias da cidade , receio algo ainda pior, o regresso de Carrilho de Paris e com ele o fim da pré-modernidade, dos seus redutos, em que a aferição do tempo resulta dos rituais de transição relacionados com a natureza e os seus ciclos ; as sementeiras , a festa da padroeira, as vindimas, a matança do porco, o carnaval. Sim, o carnaval, quando se comem os cozidos, as feijoadas, os últimos chouriços, época em que o mundo , por definição, se vê ao contrário. Deste modo sentimos algum conforto, percebendo que estamos a atravessar um desses rituais de transição , um lapso de tempo, como em “Matrix”, e tudo se entende, tudo tem uma lógica, tudo afinal é precisamente normal : a conquista e manutenção do poder, e talvez um dia, a Torre de Marfim.
Já me ia esquecendo, notícia mesmo é um congresso internacional promovido pelo PS que se realizará em Lisboa, sobre estratégias anti-corrupção. E até vem cá o super juiz Garzón entre outras especiarias. Mas mesmo assim, preferia que fossem as propostas de Cravinho ao parlamento.
H. Ventura
Custa-me assumir este facto, mas de momento não sei sobre que escrever. Apesar de existirem de momento, temas em fartura, ou talvez por causa disso mesmo. Primeiramente pensei escrever, à luz da teoria dos telhados de vidro, sobre a recusa do PS em aceitar as propostas legislativas do eng. João Cravinho visando a luta anti-corrupção mas esse tema exige aturada investigação, muito longe dos meios que este jornal me põe à disposição. Lembrei-me assim de repente de Carlos Pimenta, o ambientalista, e da sua enérgica promoção para Bruxelas, mas uma coisa não tem nada que ver com a outra.
Pensei também escrever sobre a viagem presidencial à Índia , e de como conheci goeses no tempo em que trabalhava nas obras, mas este tema merece um lugar de corpo inteiro num outro espaço, e sobre a picante viagem do Presidente Cavaco temos aqui em Ovar quem tivesse ido na comitiva podendo portanto escrever melhor do que eu bobre o tema. Poderia ainda debruçar-me sobre a questão do reembolso das “Joanas-do-arco-da-velha”, escalpelizando o recuo estratégico por parte da Fundação do Carnaval em vésperas do Grande Corso, e com isto colocar em dia a necessária e inevitável polémica anual em torno do Carnaval, sem a qual Carnaval não é Carnaval. Mas este assunto vem do passado, agora o Carnaval já é outro.
Pensei também em escrever sobre a inflacionária adjectivação pró-mediática dos mega-processos judiciais, “apito dourado” “operação furacão” , “rebéu-béu, pardais ao ninho”, mas convém lembrar que os processos estão sob investigação e não posso divulgar o que não sei. ( Neste contexto senti-me, mais uma vez, tentado a escrever sobre a necessidade de estudarmos as propostas legislativas de João Cravinho ).
Temos ainda o incontornável referendo sobre a IVG, a pergunta, o país real, o país ideal, mas depois do que disse o professor Marcelo, e o professor martelo, o melhor é estar calado. E sobre a viagem de José Sócrates à China e a tão sublinhada ideia de que temos uma relação privilegiada com África, e mão de obra barata no quadro europeu ? Um bom tema, mas caiu por terra, pois o presidente chinês está de visita a Moçambique... e acabei agora de saber o resultado do inquérito (anónimo) aos arquitectos portugueses que demonstram que 40% destes profissionais ganham menos de 500 euros por mês. (Por um instante já nem me lembrava das propostas legislativas de Cravinho ...)
Já a ficar desesperado, eis que temos a notícia de que uma máquina escavadora foi apreendida por andar a retirar areia em trecho da reserva ecológica, mas sendo esta matéria do quotidiano, não é notícia de relevo. Notícia seria andarem as retro-escavadoras a passear pelas ruas, disfarçadas de carros de carnaval, e ninguém as ver, como tem acontecido ao longo de muitos milhares de metros cúbicos de extracções .
Finalmente, temos notícias de Lisboa mais concretamente da Câmara, mas, após o visionamento de um vídeo em que o eng. Carmona anda aos tombos de bicicleta pelas escadarias da cidade , receio algo ainda pior, o regresso de Carrilho de Paris e com ele o fim da pré-modernidade, dos seus redutos, em que a aferição do tempo resulta dos rituais de transição relacionados com a natureza e os seus ciclos ; as sementeiras , a festa da padroeira, as vindimas, a matança do porco, o carnaval. Sim, o carnaval, quando se comem os cozidos, as feijoadas, os últimos chouriços, época em que o mundo , por definição, se vê ao contrário. Deste modo sentimos algum conforto, percebendo que estamos a atravessar um desses rituais de transição , um lapso de tempo, como em “Matrix”, e tudo se entende, tudo tem uma lógica, tudo afinal é precisamente normal : a conquista e manutenção do poder, e talvez um dia, a Torre de Marfim.
Já me ia esquecendo, notícia mesmo é um congresso internacional promovido pelo PS que se realizará em Lisboa, sobre estratégias anti-corrupção. E até vem cá o super juiz Garzón entre outras especiarias. Mas mesmo assim, preferia que fossem as propostas de Cravinho ao parlamento.
H. Ventura
( texto publicado no jornal "Praça Pública" ( Ovar) em 7 de Fevereiro
Comentários
Mais um palco, uma passerelle para a vaidade oca e vã do sócrates! Lá estarão os repórteres embevecidamente a relatar o evento. Mesas redondas com os players habituais glosando sobre a “problemática” da corrupção lusa e seus agentes. Claro que são sempre os outros, ninguém sabe exactamente quem mas para o espectáculo tal coisa não interessa nada. Os directos, as insinuações, a pose, a corte, os apitos dourados, o sistema, o malvado pinto da costa (o “outro” que compra árbitros com putas, jantaradas e relógios de 150Euros), os autarcas (principalmente os do Norte), etc, etc.
p.f. tirem-me deste filme!! Não quero assistir ao final desta farsa burlesca e patética. Não quero estar numa plateia que aplaude tão maus actores.
(Ventura, perdoa-me o desabafo.)
lino