A Senhora Morgada, e os barcos insolúveis.



Eduardo Luís
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À senhora morgada desejo os melhores sucessos mas o que lhe deselho mesmo é que não tenha tendências desviantes, que nunca estacione fora de sítio que nunca coma com a mão esquerda, que frequente sítios muito recatados, que não saia ao domingo, que vista saia comprida, que não despenteie o cabelo, que goste de futebol, que não fale com estranhos, que mude a sua filha de escola ( de preferência na Suíça), que nunca passe dos 120 nas A.E. que tenha os seus impostos em dia que vá verificar todas as contas por pagar que nunca compre fiado que deixe de frequentar o café onde vai de manhã, que não tenha amigos esquisitos e pobres que possam causar problemas ( por exemplo podem precisar de ajuda), que tome precauções nos semáforos, que não fume, que não beba, que até nem goste de sexo e de comida e que o pôr-do-sol seja para si uma hora a evitar, e que se levante cedo e que nunca estacione mal e que nunca pise um risco contínuo e que diga que é pobre e tem um familiar próximo doente, e que diga que nunca foi feliz mas que seja feliz , e que diga que não tem medo de ninguém muito baixinho, para percebermos que não tem medo mas que tem um bocadito, e que goste de ouvir música metálica mas diga que prefere a clássica, talvez Ravel, oh! o Bolero, e que vá a eles com gana. Mas lembrando-se que é morgada , apenas. O que nos tempos que correm, já é muito.

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