Seizing the opportunity


" - Agarra-o ! Agarra-o!" , dizia D. Fuas novamente em queda ascensorial sobre a Passarola de padre Bartolomeu. Parecia-lhe um anjo, loiro e doce, puro, envolto en brancos lençóis de seda... mas não. Era um apito ! Reluzentemente dourado, que se soltava do pescoço de um gentio, daqueles que mais parecem ásaros canoros de masturbante feição, arfando em correrias endiabradas e esforçadas, perseguindo, não donzelas como D. Fuas, mas uns pobres artistas que por sua vez perseguiam um pequeno balão ao qual acertavavam uns valentes pontapés, ora para lá ora para cá. Artistas... que nem dinheiro tinham para vestimentas dignas, pois apresentavam-se em cena de calções curtos e camisetas sem mangas, sobre um relvado, coisa triste, mais sítio de vacas do que de artistas .

Perturbante imagem esta se lhe acrescentarmos os encontros furtivos entre os homens do apito e umas senhoras também douradas, mas pelo sol de inverno das estepes , o que D. fuas desconhecia pois caso contrário logo trataria de vencer a barreira espaço-temporal e aterraria no Sheraton da Boavista, ou no Campo Alegre, de Passarola , levando consigo o poeta desbocado, as nínfas, marinheiros, e até o padre jesuítapara a nobre missão de evangelizar as senhoras das estepes. É que sempre somos um país de católicos, como na Irlanda.
Pois nunca lhe passaria pela cabeça que aquele objecto dourado que pairava em levitação iniformemente retardada sem fim á vista, não passava de uma metafórica alusão ás partes presumilvelmente íntimas das senhoras douradas pelo sol das estepes, as russas...
Sim é verdade, esta coisa das russas á solta ou em demanda do "Graal" deixa-me perturbado ao ponto de só agora verificar a enorme potencialidade desta tramóia Lusitana, envolta no misterioso cromatismo dourado para lá das cúpulas bizantinas, o que nos coloca insufismavelmente no cerne alucinante, no vórtice lusitano da capacidade para o esquizofrenicar quotidiano. Veja-se o célebre caso Mateus.
Difícil esta conjugação de factores que me surprendem pós-férias e me deixa em estado de lastimável farrapo. Se lhes contar que um dia, lá pelas américas, andando sem saber em busca das célebres e intermináveis estradas do Wayoming, conheci uma garota delicada e doce que muito me faz lembrar as nobres estirpes russas, e com ela falei do templo dourado, das searas férteis e dos cristais azuis de cobalto, e ontem ou-vi numa entrevista de uma russa alucinante, uma tal de Tatjiana, escritora, que falava de espaços-tempo como eu não sabia... e que existem, segundo ela, e onde se pode encontrar esse azul de que falei.

O ar sobre a passarola tornara-se denso e D. Fuas precaveu-se deitando mão ao apito. "- Não deixemos as alheiras fora de mão ! ". Disse.
Afinal era mesmo um sinal de que terra era proxima. Talvez se oriente...

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