O regresso de D.Fuas



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Após as vertiginosas viagens pelo Ìndico, D. Fuas pensou regressar. O encontro com o Gama e a descoberta de uma libelinha voadora de troar metálico e ronrronante ( O Lusitânea) , assim como a viagem ao "WayouMing" eram dos momentos mais fantásticos que tinha vivido, mas agora queria voltar.
Eram as Festas, o Ano Novo e porque não dizê-lo, as saudades das caçadas, gazelas e donzelas em loucas correrias pelos bosques, as refrescantes pausas junto a um riacho de transparentes correntes aquosas. Em estado cristalino, líquido e luxuriante.
Mas o regresso não seria fácil. D. Fuas tinha até perdido a memória dos telhados vermelhos de telha lusa, de tanto azulear pelo mar, polvilhando sal sobre os píncaros dourados do oriente. E a bordo da passarola de Padre Bartolomeu a vida tornara-se enfadonha, pois as ninfas já não eram o que foram, e os sermões do padre e as histórias do poeta já não lhe diziam muito, apesar da eloquência de ambos e do elevado grau intelectual das conversas. Ele, habituado a um deambular ligeiro e livre cavalgando pelos bosques, sentia-se limitado com aquela coisa da poesia, do Kerouac sempre a querer ser tão feliz como Hemingway, da exagerada metafísica das coisas quando as coisas por vezes são apenas as coisas e não têm metafísica nenhuma... Embora o nascer do sol no Ìndico transforme o espaço, as distâncias e até mesmo as pessoas, ele sabia que no dia seguinte ele lá estaria outra vez a nascer, e no outo dia , e ainda no outro... e que depois já não heveria lugar para tanto acordar cedo, só para ver o nascer do Sol.
Queria voltar ao seu Castelo, á sua casa de Porto de Mós, mas para isso teria que convencer Bartolomeu. O reino estava em perigo? Talvez. Já não era a sociedade Santanética que o afligia, nem tampouco a "Hera Socrática", agora eram os tempos das presidenciais eleições. Uns alegres queriam o D. Sebastião de volta. Outros queriam cavaquear mais uns tempos em grandes subsídios, outros o tempo do Império Colonial soarizante-em-fuga agoniante, outros ainda queriam uma política franciscana louca , e para baralhar ainda mais tinhamos ainda um senhor bem disposto que ainda não tinha dançado convenientemente, e que queria expulsar os neoliberais, ou toltalmete liberais, os únicos que ainda tinham algum poder instituido no reino, pois detinham a banca, e alguns barcos. Para onde ir? O reino estava de facto em perigo.
Portugal precisava de D. Fuas e D. Fuas queria voltar. Falou a Bartolomeu da Refinaria de Sines, um novo Jerónimos, ( quantos não se tinham manifestado contra a presença desses monges no melhor local da periferia de Lisboa?) e na possibilidade de nuclear em Elvas uma nova casa, livre de perigos de "xernobis". Mas o que de facto iria mover o jesuita era a nova arrancada até África, desta vez Dakar , uma grande correria a fazer lembrar aquela outra do grande desastre de 1580, mas agora muito bem organizada, sem traidores nem rezas no campo de batalha, agora com Francos e muitos francos aos milhões. Alcácer-Quibir ficaria para sempre esquecido...
Era uma nova esperança, a política deveria ser essa, a das grandes corridas loucas, de Lisboa a Dakar, e em barco de vela, uma outra grande corrida, de Lisboa a Pequim, Rio de Janeiro, e mais tarde uma célebre Lisboa - Carregado... Estava assim trilhado o nosso futuro, de corridas. Bem, já era alguma coisa...
E como para as corridas é preciso petróleo, venha de lá a refinaria. E como isso de refinarias deita muito fumo, venha de lá a energia nuclear.
E com as regatas e os barcos de alta tecnologia iriamos relançar a indústria naval, agora virada para as grandes corridas á vela. Bela ideia ! D. Fuas iria desenvolver um plano para recuperar Buarcos aos Fenícios. E a Nazaré aos Bretões que ali ainda andavam nas cruzadas...Pena é que em B(u)arcos sejam tão poucos...
Iria sem dúvida convencer Bartolomeu a regressar mesmo que temporariamente, digo.

Comentários

Dinamene disse…
Fosse eu desfaçado e entregar-me-ia à rapinância, mas como me falta a errância, neste terrunho encalhado (tenho o casco arrombado), dos ciganos ali acima (tão bem) cantados, peço-lhe a devida permissão para publicitar no Legendas a chegada de D. Fuas, ainda que temporária.
Um abraço de um que o lê em silêncio, como deve ler-se.
h ventura disse…
A chegada de D. Fuas será lá para Maio, talvez Junho... Para tanto terá Neptuno que abrandar as tormentas, lá no cabo, e o Adamastor sonhar com a nau catrineta... Mas chegará. A questão é, chegará a tempo? haverá ainda reino que justifique a esperança? D. Fuas lá no íntimo julga que sim...
O mar, a nossa única fronteira, a que merece a pena transpor, ir, voltar e regressar sempre.

retribuo o cumprimento.