"Arquitectura e vida"

Escrevi um texto crítico sobre o Hotel Meliá Ria , em Aveiro,(em frente á Jerónimo Pereira Campos),publicado na "arquitectura e vida" de Dezembro.
Começa assim:


Intermitências Cristalográficas.

1 - Ângulo.

Na arquitectura portuguesa poderemos distinguir momentos de luminosidade provenientes de uma profunda relação com a Natureza.
Nestes momentos de edifição percebe-se, como no fio condutor, que a busca do essencial circunda em torno de uma estrutura regida por ângulos, que orientam eixos, que geram planos, criando uma notável (infinita?) sequência de possibilidades espaciais.
Neste quadro, o entendimento do ângulo, a abertura certa, a torção precisa, o declive controlado, geram a necessária estabilidade ao projecto, como se no ângulo residisse a pedra de toque de todo o processo de projectar e construir, legitimando todas as questões de sobrevivência da própria arquitectura.
Estou a falar de uma arquitectura de ordem natural que, de quando em vez, detectamos na nossa cultura, resultado de uma evolução criada pelas difíceis topografias, pelas complexas realidades programáticas e funcionais. Esta evidência lembra-nos a "natureza cristalográfica da arquitectura portuguesa" que se revela de tempos em tempos, intermitente, como a luz que incide sobre um cristal.
Como exemplos refiro o tempo dos castelos, construídos em sítios estratégicos, as fortalezas de beira-mar nos longíncuos Ormuz e Damão, as mais recentes estruturas defensivas em forma de estrela, a Casa da Música de Koolas, sem esquecer a Capela da Luz Eterna de Bernardo Rodrigues.

2 - Superfície

Aveiro, cidade aquamórfica, na sua essência resultou das condições naturais que proporcionaram o estabelecimento humano junto à àgua.
O sal a pesca os transportes fluviais, delinearam vias e caminhos que se desenvolvem altimétrica e direccionalmente para o interior, de acordo com uma estruturante relação com a àgua. A cidade cresceu à vista de canais, de esteiros e de "calles", vias de comunição que estabelecem complexos processos de mobilidade para com os territórios adjacentes e a Ria.
Longe das pirâmides do deserto, Aveiro constrói prismas sobre a àgua, referências a sistemas cristalográficos de cloreto de sódio que se erguiam na paisagem, sob rigorosos conceitos geométricos assentes no minimalismo da horizontalidade, controlando marés, sob a densa luz que se demora no vapor de àgua e nos reflexos vitrificados dos azulejos, luz que por aqui demonstra carácter próprio, peculiar omnipresença.
Mais do que salinas, geografias de relações entre territórios humanos e territórios urbanos, detectamos aqui uma notável simbiose eco-cultural, correndo o risco de nos encontrarmos perante uma cidade única no universo urbano português.
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e continua, pela revista dentro, até que se atira um seixo, sobre o lago, e se observam as ondas.

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