Relações

Haverá uma articulação relacional entre arquitectura e culinária. Explicar a razão porque os cominhos ficam bem nas tripas " à moda do porto", ou porque os coentros são essênciais aos pézinhos, ou o conhaque flambé sobre o pato de cabidela, é tarefa que se pode fazer em paralelo com o trabalho de estirador.
Sim a arquitectura pode-se relacionar com umas perdizes se acompanhadas com carícias , como nos movimentos sobre estanhados planos ou no afago do reboco. E o lume brando das salas horizontais com vista discreta sobre a piscina em tarde de patés e tostas, explica a inexplicavel devoção de tantos arquitectos pela manutenção do lume . E para que o lume não se apague, o incontornavél "bruto" ou a melodiosa descoberta do Alvarinho relacionando enrolados de espargos com salmão fumado e puré de abacate, o que fica sempre bem no palacete.
Perorrer os espaços é bem melhor depois de uma passagem pela cozinha, enquanto se enrolam no sofá os pombos, percorremdo os odores que se escapam nos tectos altos, os pés-direitos triplos para que o ar não esqueça, e que o burburinho sobre o mármore da cozinha não esmoreça, mesmo depois das obras á mesa, novamente os pombos.
Sim insisto que relacionar arquitectura e culinária não é disparate , as obras têm uma receita, têm ingredientes, de respeitáveis proveniências , as proporções exatas, o tempo certo, a química e as mãos .
As mãos que se descobrem e se perdem no manusear das leveduras , na busca do prazer de a ver crescer , para depois ir ao forno e no rubro, cozer.
E após a passagem pela escola, é tempo de verificar a presença da vegetação nas cadeiras, á noite, quando se volta ao exterior para que o jardim se percorra entre labirínticas passagens de tílias e bétulas já sem folhas, descobrindo a almofada vegetal sob a digestão do tempo.

Foi o que mais me surpreendeu naquela tarde de encontro de arquitectos, a frase da Alexandra dizendo precisamente, durante o jantar , " a arquitectura e a culinária relacionam-se..."

Para a Alexandra, lembrando Távora e a sua escola de arquitectura, cujo único limite é a vida,
lhe ofereço.

A acta da reunião será depois publicada com o detalhe do arroz com todos. É possivel continuarmos a arquitectura se alimentados bem. Condição essêncial á plenitude do gesto artístico, segundo Távora.

Comentários

fico à espera da acta já que o arroz será mais dificil....abraço.
h ventura disse…
caro azuleante leitor, a acta da reunião é coisa interna por enquanto, pelo que a não devo divulgar, mas as matérias de discusão, essas quanto mais divulgadas melhor. é muita coisa que preocupa os arquitectos fora do "main stream", embora tenhamos no núcleo colegas cuja prática e escala de intervenções não fiquem aquém de muitas estrelas... se de facto estiver interessado em saber mais sobre a condição de arquitecturar por aqui, talvez eu possa obter tempo brevemente para me dedicar a essa tarefa de elencar as matérias da frustração que afligem muitos destes profissionais, sobretudo os mais novos, que oscilam entre o ser artístico e o ser técnico e que talvez por isso a sociedade nunca os vá entender lá muito bem. hoje o poder usa-se da arquitectura de uma forma até obscena... e quando é preciso riscar bem e encontrar o equilíbrio entre o sublime e o funcional,mesmo no território outros valores intervêem...
obrigado pela reação.
h ventura disse…
M.F, desculpe, deveria falar no feminino, mas isto ainda são resíduos de passagens pela cultura anglo-saxónica...ou seja, distrações.