Ouvi e vi ontem a entrevista de ana sousa dias a francisco aires mateus, um dos irmãos mateus, arquitectos. Eu tenho algum respeito pelo trabalho deles. é um trabalho forte, de concepção intelectual discursiva muito clara, daí a serenidade de que ele falou.
Gostei também de ouvir que quando começou a obra de azeitão o trabalho parou . O projecto teria que ser outro. E colocou-se de lado tudo o que estava para trás e reiniciou-se um outro processo. a coisa teria que ser alterada, as paredes depois de limpas disseram que o espaço existente teria que ser respeitado , pois significava um tempo e esse tempo criaria uma tensão com o tempo actual, com a nova construção dentro dessas paredes . Coragem, e bons clientes. Discurso muito claro de quem tem da arquitectura uma actitude intelectual, como só assim poderá ser....
Sem o esplendor de uma sapiencia ultra contextual, o arquitecto finalmente dissertou livre, mas só lá para o fim. nomeadamente, que por vezes sentia inveja dos raros alunos que se saiam com soluções que a ele impressionavam . e disse que cada ano aí uns cinco ou seis alunos o impressionavam . Para um arquitecto que projecta, o contacto com o fervilhar de um grupo de pessoas que está em evervescência , cuidando de descobrir uma arte milenar profundamente relacionada com o quotidiano, com a sociedade, apresentada através de mestres que na sua multiplicidade de propostas contribuiram para o constante renovar do homem, é fortemente condicionador do seu próprio percurso. que inveja tenho eu de aires mateus...
E a ana sousa dias sempre com aquelas perguntas simples a querer saber mais, por vezes até parece assim uma pessoa muito burra... então como é que surge a ideia, como é que voçês encontram a solução, mas então as casas não são para viver?
as eternas perguntas de como surge o acto artístico. do confronto. sim do confronto.
do confronto de realidades.... Quanto mais cultas, mais difíceis, melhores. Por isso corremos o risco de encontrarmos a melhor arquitectura nos centros de maior confronto, os centros urbanos.
fotos: michael kenna
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