Melros e galinholas, ou a crepitulante retro-modernidade.

No centro de Porto de Mós temos um jardim, ou o que resta dele. Obra dos idos anos sessenta, sob o risco do irreverente Ribeiro Telles, temperado aqui e ali por umas esculturas , imediata apropriação colectiva, foi a centralidade moderna de Porto de Mós e ainda é.
Ali ao lado passa o Lena , pequeno rio , habitat de vida e de suave regatear.
Como se não bastassem as inqualificavéis e inenarráveis próteses que recentemente lhe impuseram - cerca de patos com chafariz que brota falo , minguante e tímido, ainda por cima com golas, onde antes era espelho de água sereno , imaginário, reflexo vivo de molha pés e escorrega cús, vês as estrelas pois... porque não. Ali ao lado, no rio que corre ao longo do jardim, resolveram em plena época de nidificação de ovos e de ovas, galinholas e ruivacos, trutas talvez, "alindar" e "limpar", com retro-escavadora, o leito e as margens. A chamada limpeza do canal, sem respeito pela mais elementar ecologia.
Este tipo de limpeza deveriam seus autores e mentores, mas mais estes que aqueles, levar a cabo por certo canal, com retro e tudo e que a limpeza só terminasse quando as suas mentes estivessem finalmente aptas a ver clarividentes, o rodopio da galinhola em torno do ninho.

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