Do melhor que tenho lido vem publicado no JA, ( Jornal de Arquitectos), que não é um jornal mas sim uma revista. Percorre a sua linha editorial caminhos de erudição urbanística e arquitectónica, mas de um modo literário onde a poesia de muitos dos textos ali publicados nos faz também acreditar que ainda é possível.
Assunto de inadiável importância levou-me a Lisboa e fui de combóio. Levei comigo o nº 197, set/out de 2000), esquecido mas não arrumado da mesa de coisas para ler. Para além de se tornar útil para o motivo da viagem, li e reli alguns dos seus textos, em volta do tema "Praias de Portugal."
Tema fértil em referências micro-históricas, desde famílias reais extintas até ao mais anónimo dos contemporâneos operários, também quase extintos, as praias de mar ou de rio guardam-nos momentos de grande felicidade. ( Se esquecermos os sustos e as tragédias).
Para os que conhecem e frequentaram as minhas praias de sempre, o Furadouro e o Areínho, sabem que poderíamos sem conta contar imensos episódios, sobretudo aqueles que nunca contámos a ninguém e que em podendo, dariam belas prosas.
Foi mais ou menos esta possibilidade que vi enquanto lia Manuel Graça Dias , responsável editorial, Bernardo Pacheco Rodrigues, Júlio Teles Grilo, Manuel Vicente, Jean Nouvele ... e outros também famosos. Ora leiam...
" Da casa, não me lembro, talvez nem lá tenha entrado. Foi tudo cá fora, " ao fresco", debaixo de muitos chapéus de Sol ruidosamente á volta de uma mesa ...
Finalmente almoçados, com a tarde já a meio deixámos os senhores crescidos e fomo-nos sentar em cadeira de lona inclinadas, directamente confrontados á água ... Foi demais! O sol por entre as árvores, o céu azul de Outono, a maré que enchia. Acho que acabámos todos a tomar banho, no momento X...
Manuel Vicente- (Um sítio para a memória)
" Era escuro o rio em Agosto com o sol a pino tracejando minifundios de pedra. Prateado ao entardecer, cose na sombra farrapos de cores, os polígonos desmaiados de um dia. "
"Depois da curva havia o açude..."
" Aprendi a nadar com o medo de tocar no lodo. Ao contrário do mar não ia ao leito buscar areia. "
"Ao Domingo vinham famílias que estendiam mantas sob os ulmeiros. Mulheres de lenço tiravam suculentas iguarias de cestos de vime espalhando sobre o axadrezado das toalhas naturezas mortas. Homens com garrafões de vinho e melancia jogavam cartas. Á sesta o chapéu cobria as caras e desabotoavam-se as primeiras casas da carcela.
Zumbiam varejeiras nas bordas dos copos. "
Júlio Teles Grilo- " o Açude"
" No pequeno barco de pesca contornamos a ilha de Capri. O Steven conta-me que do alto deste penedo o imperador romano disparava os amantes que não o satisfaziam na turística resort de onde destinava as orgias do império. Se a morte não fosse certa como nos narra a lenda, plácidos centuriões sentados no calhau despoletavam a última fresca catanada na aterrada testa de amante incompetente."
" Fizemos uma refastelada semana de turismo mental de habitação, piqueniques no solário, sonecas manuseando em segredo podres originais do Séneca. A biblioteca tem olhos de bicho."
Bernardo Pacheco Rodrigues. ( Turismo é Cosa Mentale...)
" Cést ansi que vous verrez, au pied du pont de Brooklin, un petit quartier de Brooklin qui, á force de regarder Manhattan, est devenu Manhattan ".
"Nos contos de fadas, a bruxa impede a princesa de se ver num espelho já que esse seria o único meio de ela se aperceber da sua beleza."
Jean Nouvele - "O espelho de Manhattan"
...da memória descritiva de Main Street Pier-River hotel.
Das diferentes nuances da viagem a Lisboa falarei, talvez um dia...
( o título é de um livro...)
Assunto de inadiável importância levou-me a Lisboa e fui de combóio. Levei comigo o nº 197, set/out de 2000), esquecido mas não arrumado da mesa de coisas para ler. Para além de se tornar útil para o motivo da viagem, li e reli alguns dos seus textos, em volta do tema "Praias de Portugal."
Tema fértil em referências micro-históricas, desde famílias reais extintas até ao mais anónimo dos contemporâneos operários, também quase extintos, as praias de mar ou de rio guardam-nos momentos de grande felicidade. ( Se esquecermos os sustos e as tragédias).
Para os que conhecem e frequentaram as minhas praias de sempre, o Furadouro e o Areínho, sabem que poderíamos sem conta contar imensos episódios, sobretudo aqueles que nunca contámos a ninguém e que em podendo, dariam belas prosas.
Foi mais ou menos esta possibilidade que vi enquanto lia Manuel Graça Dias , responsável editorial, Bernardo Pacheco Rodrigues, Júlio Teles Grilo, Manuel Vicente, Jean Nouvele ... e outros também famosos. Ora leiam...
" Da casa, não me lembro, talvez nem lá tenha entrado. Foi tudo cá fora, " ao fresco", debaixo de muitos chapéus de Sol ruidosamente á volta de uma mesa ...
Finalmente almoçados, com a tarde já a meio deixámos os senhores crescidos e fomo-nos sentar em cadeira de lona inclinadas, directamente confrontados á água ... Foi demais! O sol por entre as árvores, o céu azul de Outono, a maré que enchia. Acho que acabámos todos a tomar banho, no momento X...
Manuel Vicente- (Um sítio para a memória)
" Era escuro o rio em Agosto com o sol a pino tracejando minifundios de pedra. Prateado ao entardecer, cose na sombra farrapos de cores, os polígonos desmaiados de um dia. "
"Depois da curva havia o açude..."
" Aprendi a nadar com o medo de tocar no lodo. Ao contrário do mar não ia ao leito buscar areia. "
"Ao Domingo vinham famílias que estendiam mantas sob os ulmeiros. Mulheres de lenço tiravam suculentas iguarias de cestos de vime espalhando sobre o axadrezado das toalhas naturezas mortas. Homens com garrafões de vinho e melancia jogavam cartas. Á sesta o chapéu cobria as caras e desabotoavam-se as primeiras casas da carcela.
Zumbiam varejeiras nas bordas dos copos. "
Júlio Teles Grilo- " o Açude"
" No pequeno barco de pesca contornamos a ilha de Capri. O Steven conta-me que do alto deste penedo o imperador romano disparava os amantes que não o satisfaziam na turística resort de onde destinava as orgias do império. Se a morte não fosse certa como nos narra a lenda, plácidos centuriões sentados no calhau despoletavam a última fresca catanada na aterrada testa de amante incompetente."
" Fizemos uma refastelada semana de turismo mental de habitação, piqueniques no solário, sonecas manuseando em segredo podres originais do Séneca. A biblioteca tem olhos de bicho."
Bernardo Pacheco Rodrigues. ( Turismo é Cosa Mentale...)
" Cést ansi que vous verrez, au pied du pont de Brooklin, un petit quartier de Brooklin qui, á force de regarder Manhattan, est devenu Manhattan ".
"Nos contos de fadas, a bruxa impede a princesa de se ver num espelho já que esse seria o único meio de ela se aperceber da sua beleza."
Jean Nouvele - "O espelho de Manhattan"
...da memória descritiva de Main Street Pier-River hotel.
Das diferentes nuances da viagem a Lisboa falarei, talvez um dia...
( o título é de um livro...)
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