Casas com Música

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A casa da Música, na cidade do Porto, representa antes de mais uma afirmação da cidade perante a Europa, e consequentemente, uma vulnerabilidade ao Mundo. Tendo algumas marcas originais intransmissíveis, Oporto assume uma postura direcionada para uma área segura e enraizada na mais profunda tradição Europeia, a música. Com efeito, para celebrar um marco histórico de cariz Europeísta/universalista (A capital da Cultura em 2002) esta cidade apostou num equipamento e numa metodologia de escolha arquitectónica que confirma uma estratégia mais ou menos consciente do papel do Porto no concerto das cidades, e que demonstra que as suas elites se identificam com o que de mais profundo o Porto é. Esta uma das suas forças mais determinantes.

Ao escolher um arquitecto holandês para o seu mais emblemático edifício, artista do estrelato confirmado, aponta-se para o Norte.
A arquitectura da escola do Porto, também ela, se relaciona preferêncialmente com o Norte da Europa, desde Nasoni, o neoclassissismo inglês, o ferro da revolução industrial, etc. ( ao passo que Lisboa teve desde sempre um certo pendor italianizante).
É pois esta uma atitude consciente que vincula e reforça um certo pendor "hanseático".

A música, essa é mais móvel, mais deslocalizadora, mas não deixará de ser interessante verificar quem por aí virá pela mão de um senhor Burmester... o que trará obviamente as suas consequências ao panorama musical português mas que, por limitação, não saberei como acompanhar com pertinência...

Mas em relação ao senhor arquitecto Rem Koolhas tenho a dizer que a sua presença no Porto não tem sido nada pacífica. Com isto quero dizer que a sua obra na generalidade e esta do Porto em particular, tem influenciado e vai influenciar por algum tempo as gerações de arquitectos do Porto que naturalmente buscam referências fortes e identificáveis num território cada vez mais anónimo, que é o da arquitectura. Não que a arquitectura não tenha nomes, que os tem, mas a diversidade de arquitectura de autor escasseia, por escassearem os modelos e as pesquisas linguísticas e técnicas, em sintonia. Ora é esta sintonia que faz a arquitectura de autor, e no tempo que corre, e corre muito, mesmo os que têm o previlégio de conseguir umas encomendas interessantes por vezes perdem-se na vertigem do fácilmente assimilável e surgem projectos colados a referências muito identificáveis, começando também a surgir os primeiros projectos " á lá casa da música". Isto para não falar ao nível das Escolas e dos projectos de estudantes...

Não temo esta influência nem a considero nefasta, se, desde logo tivermos consciência do fenómeno e a partir daí colhermos o que é importante, as técnicas construtivas, as tipologias espaciais, o processo de aprovação e implementação no terreno (sítio), mas também no espectro burocrático e administrativo de enquadramento na legislação. Este é um aspecto que considero pertinente, não para andarmos á caça ás bruxas, mas para aprendermos com as nossas próprias dificuldades técnico/urbanísticas e do relacionamento com a cidade paralela que é aquela dos burocratas. (isto para simplificar). Regulamentos e condicionantes são necessários, mas quanto mais discutidos e divulgados e divulgada a sua aplicabilidade e aplicação mais transparente se torna o processo de análise e crítica na aprovação de projectos para a cidade, deixando espaço (e tempo)para a referida pesquisa técnico-construtiva.
Nem só de casas da música vive uma cidade, mas não deixa de ser importante esta internacionalização mediática dos modelos arquitectónicos, sobretudo para uma cidade e uma escola que se habituou a criar as suas próprias referências locais.
Lembro também Alvaar Alto, Távora, Siza, Souto Moura, e Bóreas, na sua condição de arquitecto.

É pois nas suas arquitecturas que o Porto, cidade de Cultura, mais demonstra saber o seu lugar, ou não ocupasse esta cidade um dos lugares mais determinantes na defesa de territórios que nos identificam. Eu sempre tive uma relação conflituosa com o Porto, pois não sou do Porto. Identifico-me muito mais com os navegantes vindos de Sul.


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