Carta aberta ao Abrupto

Não quero nem vou cair na tentação de passar de um estilo tipo prosa poética mais ou menos intimista, para o debate político. Pudesse eu fazê-lo...

Mas um homem não é de ferro (não é piada). Prometo que não me disperso mais.


Caro Abrupto.(JPP)

M`espanto também por vezes com a leitura que faz das forças operando o mundo,
concretamente naquela ferida aberta e a sangrar que é o Iraque.
Já há muito que o leio com atenção, e esse simples facto dá-me o direito de o conhecer, através do que leio. A minha leitura de férias foi o primeiro volume da biografia de Álvaro Cunhal, obra notável. Identifico em si uma peculiar capacidade de sobrevoar os teatros do mundo, fotografando, observando, comentando, intervindo. Esse mundo que nos transmite reflete uma visão fortemente estruturada, única, que identifico apenas nos que lá longe se embrenharam pela esquerda profunda. (não gosto da palavra extrema...) *. Por isso as suas contradições são mais visíveis para os que melhor o vão conhecendo, o que me parece ser o caso de MST (miguel sousa tavares). Vem isto a propósito e um artigo do Público aí do dia 3 ou 4 de Setembro de MST, resposta ao seu eventual americanismo.. Partilho das opiniões de MST neste artigo, (até porque já vivi nos USA uns anitos), e já há tempos lhe ando para escrever sobre este aspecto obscuro na sua trajectória visível de observador erudito. A defesa da guerra. (A palavra defesa aqui soa-me a falso, pois é a paz que necessita ser defendida). É que a argumentação para justificar aquilo é tão débil, o caos tão previsível, a derrocada tão real, os atentados a valores civilizacionais tão evidentes que colocam os seus defensores naquele patamar de justificações alicerçado na defesa dos valores ocidentais. Que valores? Os das cruzadas? (são sempre os mesmos, não são?). Por mais bem pensadas que sejam as suas prosas, por mais bem estruturado o seu raciocínio, não compreendo esta sua posição, O Iraque.
O que me leva a conjecturar, (aí teria que o conhecer melhor...) se não estará a ser alvo de um qualquer deslumbramento, ou de um lângido torpor metafísico, nas suas deambulações pela verdejante Estrasburgo...
O que está em causa é a verticalidade intelectual de alguém que nos habituou a olhar em frente.
Mas defender esta guerra...

Cordiais saudações;

H. Ventura.

*
PS.
Acredita mesmo que o Bloco de Esquerda é um partido de EXTREMA esquerda? Tento explicar ao meu filho que os dinossáurios já não existem...O que é difícil, pois eles aparecem a mexer, na televisão.


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