Victor- Boa noite judite, olhe, ainda bem que pergunta, sabe este dossier sobre as questões do BCP tem sido muito difícil, mas eu já me tinha preparado para ir ao parlamento e portanto foi uma questão de dois serões para relembrar o que tinha preparado anteriormente, e julgo que conseguirei responder a tudo o que me perguntarem... depois do parlamento, fiquei com tempo para ter as ideias bem assentes...
judite- Pois, concerteza, afinal é para isso que lhe pagam, para estar sentado...
victor- Desculpe?...
judite - Dr. Constâncio, o senhor não trabalha num banco?
victor - Sim, claro, no banco de portugal...
judite - Então, estará de acordo comigo, é pago sobretudo para estar sentado...
victor - É curioso... sim, passo grande parte do tempo sentado, é um facto, mas não é para isso que me pagam...
Judite - Mas então se lhe pagam para exercer uma actividade diferente daquela de estar sentado, porque razão passa a maior parte do tempo sentado?
victor - Pois, ... mas repare que se trata , não de um banco qualquer, mas sim do banco de Portugal, portanto temos de honrar as nossas tradições e deveres, um banco é para estar sentado, embora...
Judite - Dr Constâncio, depois de tanto tempo sossegado no seu banco, ali, sentado, observando o panorama financeiro português, com os olhos protegidos do mundo por esses óculos de lentes espessas, não sente uma grande proximidade com o célebre personagem do desenho animado, " Mr. Magoo" ?
victor - Óh! o incomparável Magoo!... Sim, ainda bem que me fala desse grande mestre, não que eu lhe chegue aos calcanhares... mas desculpe não entendo a sua pergunta...
judite - Bem, eu explico, é que como sabe Mr. Magoo circulava incólome por entre os mais variados perigos, abismos, arranha-céus, auto-estradas... O sr. também passa por vezes por situações de alto risco, e nada lhe acontece, não é assim?
victor- Alto risco ? não vejo como... estou quase sempre sentado...
judite - Refiro-me a operações financeiras comprometedoras, circuítos de capitais, canais de impunidade, os offshores, as fugas ao fisco, ainda agora vieram a público umas coisas do BPN aquela história da tentativa de burla de um antigo funcionário...
victor - Sinceramente, não estou a vislumbrar qualquer irregularidade, sabe, eu conheço a lei, algumas, aliás, fui eu que as fiz, mas quem tem tratado dessas transacções é o meu sobrinho, o Aldo, conhece o Aldo? O Aldo é um grande admirador seu, diz-me sempre , tio qualquer dia a judite... sabe, deve ser do seu cabelo, aquele maroto do Aldo...
judite - Trabalha no banco o seu sobrinho?
Victor - Não, vai lá só para me ajudar, de vez em quando, é que aquele banco, imenso, está a tornar-se desconfortável, um pouco frio, gostaria até que substituissem aquele granito por um tecido mais confortável... linho do minho possivelmente...
judite - Compreendo, mas não acha que poderia ter feito qualquer coisa , atempadamente, para evitar o granito?
victor - A tempadamente? Oh! Não sabia... sim, compreendo a sua pergunta, mas a essa questão não posso responder, teria que falar com o Aldo...
Toca o telefone no bolso de constâncio, constâncio olha e atende o telefone em plena entrevista, é Joe Berardo...
joe - Claro, agora atendes logo que te chamo, antes só continuadamente... continuadamente.... continuadamente...
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