Aventuras no "Estreito de Magalhães"

Para medições e pesagem do "A Ventura" devido às regatas da semana de vela da Costa Nova, decidi fazer a viagem até à Costa Nova no dia 2 de Agosto, Sábado, pela àgua.

Partimos do cais do Carregal pelas 16 horas, vento rijo de NO força 8 ou equivalente, de modo que decidimos partir só com o estai. Boa opção. a Maré subia e sabíamos que teriamos maré a subir até ao largo da Torreira. Não podiamos passar muito tarde em S. Jacinto para não apanharmos a vazante e os cálculos demonstraram estarem correctos.
Partimos eu e um dos meus amigos de aventuras náuticas, Vitor Gomes, e antes de zarparmos tivemos a surpresa de mais um personagem na viagem, a Manuela, prima do vitor, proprietária do "Adagio" um 31 pés magestoso... A Manela nunca tinha posto pés num "Vouga". Se podia ir, dizia a Manela, que sim, respondi eu com a convicção de que mais uma pessoa no A Ventura seria até muito útil...
Para começar, ao subir o mastro, soltou-se a adriça do estai e tivemos que improvisar um moitão e a adriça a funcionar por fora do mastro...
Partimos.
O vento permitia a viagem só pelo canal de navegação, evitando baixios. Enquanto aparelhámos o Aventura, o que demorou umas horas, observámos a odisseia de um hobby-cat, que ficara encalhado na lama jnto ao cais da pedra. Os bombeiros de ovar estiveram de serviço e o timoneiro do catamarã após umas três horas de espera e de tentativas falhadas de se aproximar de terra primeiro, e de navegar livre depois, acabou na outa margem novamente encalhado. quando saímos estava ele a entrar no porto de recreio, parecia que tinha passado por uma densa nuvem de fuligem do carvão mais negro. da ponta do mastro até à extrimidade da madre do leme tudo era negro. Mas navegavfa e assim chegou à rampa... O bombeiro que de gatas tinha conseguido voltar a terra depois de enviar víveres a bordo confessou que no seu curriculum ainda não tinha registado nada de semelhante.
Depois de vernmo o carregal pela pôpa, o victor tomou o leme, para experimentar... eu sabia que não seria por muito tempo e disse, "depois do torrão do lameiro é que vamos saber se poderemos içar a grande... Ali, o vento diz como é que está a ria... "
E assim foi. Logo que tivemos a capela do Torrão pelo través de estibordo uma guinada forte de vento e uma onda mais afoita fez dançar o aventura para sotavento e logo ali tomei conta do leme. A minha viagem de recreio tinha terminado.

A sinuosidade do canal obrigava a uma mareação cuidada e o leme sempre a trabalhar, o aventura a surfar na "mareta" ao largo do torrão, a querer fugir para sotavento , só com o estai, e eu a alternar de pôpa com vento na alheta de estibordo para largo folgado... o patilhão a meio. O catavento que tinha improvisado para o "cruzeiro" com tecido e linha da caixa de costura da augusta, sempre colaboradora nestes preparativos de navegações à vista da costa. ( também preparou uns víveres para a viagem), mostrou-se de uma grande utilidade. E lá chegámos á ponte da varela, que passámos sem dificuldade, e entrámos no "grande mar da torreira", sempre junto á costa para evitar a ondulação e o vento.

Em frente á torreira tomámos conta de umas sandes e de uma garrafa de branco providenciada como por magia, pela Manuela, e dividimos a as sandes irmamente, ou quase...

Aqui, depois da torreira, a ondulação fazia balançar trementamente o AVentura e ora aterrávamos numa cava ora surfávamos em grande alegria por uma crista, eu pensando, se tivessemos a grande é que era pois conseguiriamos mais velociade.... mas cada vez achava mais acertada a decisão de subir apenas o estai.


Encontrámos uns mergulhadores (ameijoa?) que se debatiam com a ondulação e a vestimenta dos fatos, e que nos olhávam curiosos e algo surpreendidos. As únicas embarcações com quem nos cruzámos; uma bateira rumando ao porto de pesca da torreira, e duas lanchas de mergulhadores. Ao longe a lancha da carreira turística de Aveiro levava um bom avanço, mesmo junto a terra. Passámos a Pousada da Ria, admirando a exactidão do projecto, a localização e orientação, as esplanadas quase desertas. Vitor menciona as proporções do alçado SO, a implantação em L, as volumetrias e linhas das coberturas sabiamente desenhadas. Uma figura ( de roupão?) ocupava uma varanda, abrigada do vento.


Ainda faltava um bom bocado de viagem até à Costa. A minha preocupação era manter o aventura junto á margem o que nem sempre acontecia. de repente estavamos quase num baixio. ainda se ouviu o patilhão a tocar o fundo, agora visível. a àgua aqui já é transparente e límpida, ao contrário do que acontecia nos anos 80, antes do grande fluxo de água (de agora) poder entrar pela barra adentro...

Apertei mais o aventura para bolina, o que fazia com que os meus tripulantes trabalhassem mais um bom bocado.


S. Jacinto. O vento parecia amainar mas era pura ilusão. O sol das quase 19 horas começava a dourar a atmosfera e as cores das estruturas portuárias eos enormes montes de areia como cenário de obras que não acabam e cuja paisagem condiciona fatalmente a marginal de S. Jacinto, observámos os estaleiros navais abandonados, de um lado a pujança do porto, do outro a ineficácia da indústria naval local, se excluirmos as construções navais de recreio DC. Economias em contradição, espaços mutáveis, em grande escala de transformação paisagística. Ainda assim temos a noção da cidade porto, das possibilidades infindáveis.

Aproximamo-nos do canal de navegação da Barra de Aveiro. A minha preocupação agora é o tráfego marítimo, pois estou sem grande capacidade de manobra, mas temos muita água, o que para mim é sinal de segurança. Temos que antecipar toda e qualquer "rota de colisão" . De notar que até aqui penas uma vez funcionou o quebra-mar, a proa do aventura mergulhou na superfície de uma onda e o victor exclamou, "ora aí temos a razão de ser do quebra-mar..." Victor uma grande habilidoso na arte de marear nas condições expressas, segundo ele apenas superado por um australiano, que se diz ter muita habilidade para contornar os balanços do barco enquanto come um prato de sopa...

Estamos no canal. Não há navios a entrar ou a sair da barra. Mas, de Aveiro surge uma lancha ao longe peço para me manterem informado do seu andamento. Estamos quase a entrar o canal da Capitania do porto, Vamos evitar o cabo Horn e tentar o estreito...

A lancha que referi é a dos pilotos da barra que também vai entrar no estreito. Contorna-nos por barlavento, observam os pilotos a minha aproximação, faço sinal que vou entrar eles entram primeiro. um dos tipulantes sai da cabine a aplaudir.... fico incrédulo, não tenho tempo de agradecer a saudação. Aqui neste estreito e com as condições de corrente a coisa não é fácil temos uma lancha a entrar que decide atracar no seu cais, e eu que procuro sair de uma pôpa cerrada pois o estai nãi se decide se fica a estibordo ou a bombordo. sou obrigado a dirigir-me para a margem de sotavento, procurando um largo, para depois manobrar no sentido de barlavento mudando a vea de bordo... mas nisto uma outra lancha de passeantes entra no canal e se a ondulação da corrente e da lancha dos pilotos já dava que fazer, agora tinha aondulações cruzadas que faziam o aVentura dançar um tango dirigido pelo vento, que era rijo, mas onde a vela estai também queria estar presente, o pior eram as rajadas pela pôpa que punham tudo um pouco em alvoroço. Nunca tive a sensação de correr perigo, embora qualquer pormenor traiçoeiro podesse ser muito preocupante. Mas , ida que foi a lancha de passeantes e estando os pilotos no seu pontão, restava-me agora desviar-me das linhas dos pescadores e da extremidade que assinala a entrada do estreito já no lado de Mira. Só faltavam umas poucas braças... a manela só diz "cuidado!"
e já estamos nas águas do pacífico, que não é nada pacífico, como veremos. A corrente agora já desce um pouco e o vento é de NO o que provoca muito mais instabilidade, logo percebida pelos tripulantes que se interrogam. Sãqo os elementos a querem dançar tango, mas cada um para seu lado...

Todos observamos e louvamos a capacidade de navegação do AVentura, a sua estabilidade e também devo dizer que o timoneiro foi agraciado com alguns elogios.


Mas ainda faltava cerca de milha e meia para a Costa. Tinhamos a ponte, estávamos no jardim Oudinot e procurámos sair da corrente o que não se verificou pois eu estava já fixado na Costa e estavamos talvez cansados para bolinar e aquela irreverente ondulação seria sinal de água a bordo...


Passámos a ponte admirando as obras de reforço recentemente executadas e que davam um rendilhado surpreendente, ao longe parece decoração e que bem que fica aquela bela ponte vista da água, pintada e com as estruturas de tensão à vista...


Entrámos no porto de recreio do CVCN e antecipadamente eu expliquei a minha manobra de atracagem, e o que sucederia caso falhasse a primeira tentativa... Falhou a primeira, e a segunda, mas à terceira tomamos o devido balanço, em largo e entramos no único lugar disponível que existia, poiseu não fazia ideia onde é que iria atracar. Atracámos e descontraímos um pouco. erstávamos secos e cansados, e com fome, e sem boleia para Ovar. O joão Senos providenciou uma boleia do seu cunhado que nos levou à estação de combóios de aveiro e, pelas 20 e 30, estávamos a tomar chá e bolos na estação depois de nos termos mudado... Chegámos a Ovar onde nos esperava a sempre providencial Augusta, e o Victor finalmente chegava atrazadíssimo ao jantar de aniversário do dos seus pais, no "Oxalá"...


escrevi esta história verdadeira depois de ter colocado sob a terra o meu cão, o Mike, que morreu esta noite, vítima de um "acidente" caseiro. Estou destroçado, e a ler o livro do capitão Joshua Slocum, primeiro navegador solitário em circum navegação, emprestado pelo Carlos A. Devia estar a ultimar um projecto para entregar com urgência na CMO, mas as recordações do Mike não me deixam calcular CAS e COS.

que fazer ?


O AVentura em repouso na Costa no lugar do Fernando Redondo, por gentileza .( com a vela grande enrolada na retranca).
foto h. ventura

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